domingo, 10 de abril de 2011

Day 10 — Someone you don’t talk to as much as you’d like to

Querida Júlia,

Vou logo dizendo que essa será a carta mais ridícula que você receberá em toda a sua vida. Aliás, essa também é a carta mais ridícula que você lerá. Eu estava esperando começar com algo delicado e poético e bonitinho, que te fizesse para e refletir sobre a vida enquanto se deliciava com aquele seu famoso bolo de algum sabor que eu não lembro vegan. Meu objetivo já foi minado nesse parágrafo, infelizmente.


Eu acho que você escreveu essa carta para a sua mãe. Não lembro e estou com preguiça de procurar. Eu estou lembrando disso porque eu sempre lembro de como você escreve coisas bonitas, de como eu já te amava antes mesmo de conversar contigo, só pelo que tu escrevia. Sempre parece estranho e até mesmo falso, dizer que amava uma pessoa antes de falar com ela, só pelo que ela te transmitia, mas bem, é a verdade. Você pode até perguntar para os meus amigos: "Qual o nome que mais sai da boca da Morgana num período de um dia?", e a resposta vai ser sempre "Júlia." E, claro, o Cord iria zoar de mim e me imitar dizendo "Eu amo a Júlia!" e agitando os bracinhos. Mas enfim.


A tua janela está sempre aberta no meu msn e por vezes eu digito coisas, mas sempre penso que serão coisas estúpidas demais e não mando. O ruim de ter te amado pelos textos antes de te amar pelas conversas (?) é que eu não consigo falar contigo como quando eu falo com outras pessoas. E é simplesmente horrível, porque eu só consigo falar contigo quando é algum assunto "sério", mesmo que a gente fique rindo e fazendo piada depois. Eu queria conseguir falar besteiras contigo e fazer brincadeiras, mas eu não consigo. I'm a creep, I'm a weirdo, blábláblá.


BEM, agora você já sabe que eu estou escrevendo a carta mais stalker do mundo para ti e coisa e tal, então eu estou com muita vergonha de terminar. Mas vamos lá. Respiração profunda e seguir em frente e coisa e tal. Eu nem lembro mais o que eu queria falar aqui, sua chata. Não, espera aí, ignora esse parágrafo. Vamos fingir que ele nunca aconteceu.


Eu lembro que, quando eu fui pra Porto Alegre, eu já te tinha no msn, mas não falava contigo. E eu estava doida para dizer "Ei, você nem sabe o meu nome, mas eu estou indo para Porto Alegre e amaria te conhecer!", mas é claro que não disse. E, absolutamente todas as vezes que nós saímos para passear, eu ficava olhando ao redor procurando qualquer menção de Júlia e Thiago possíveis. Pena que nós só almoçamos em churrascarias, os últimos lugares onde eu poderia te encontrar.


(parênteses para dizer que eu só comi carne ruim aí, que as do Ceará são mais gostosas e acho que teria feito melhores refeições veganas na sua companhia, etc.)


O que eu queria dizer mesmo? Ah, sim. A sua janela do msn está sempre aberta porque eu me sinto bem sabendo que tu tá ali e que eu posso falar contigo a qualquer momento, mesmo não o fazendo. Aí, quando tu sai, normalmente bate uma tristeza e eu penso que deveria ter falado contigo. É claro que tu pode ter só ficado off-line e coisa e tal, como eu quase sempre fico, mas enfim. Você entendeu o espírito da coisa - as conversas que eu tenho contigo me fazem bem, por menores e mais raras que elas sejam. É isso.


E eu poderia me estender aqui por mais e mais parágrafos, mas já estou achando que estou enchendo o saco e morrendo de vergonha e tudo o mais. E sobre a foto: foi a primeira foto que eu tirei, do céu de Porto Alegre, quando estava voltando para casa. Viu? Teve alguma coisa razoavelmente poética nessa carta. Ahá!

Com muito amor (caso você não tenha percebido),

Morgana.