sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo

Digamos então que eu esteja um pouco amargurado pelo tempo. Digamos que eu gosto de amar as pessoas que eu amo - ou gostava, até perceber que. Bem. Voltemos ao começo. A vida não é fácil. Ou talvez, a vida para alguns seja fácil. Duvido muito disso, mas temos que abrir as exceções, para não generalizarmos o mundo. Eu, por exemplo, fui generalizado. Na categoria de "velhos amargurados pelo tempo". Esse é o meu novo eu, quem as pessoas esperam ver todos os dias, essa é a pessoa sobre quem os vizinhos cochicham. Um velho armagurado pelo tempo. Não sou sertanejo, mas apenas para a poesia, esse se torna o meu lamento: eu quase não saio, eu quase não tenho amigos. Um dos amigos que eu já perdi foi a luz do sol - o dia costumava me encantar, o brilho, a claridade. Mas agora. Mas agora. Mas agora. Agora o dia não me suporta mais, eu digo, mas na verdade eu que não o suporto. E nem a noite, na verdade, as horas já perderam o anterior sabor que tinham na minha boca. Não importam, não importam. Ah... Mais uma vez, me perdi. Nem voltei ao começo, nem expliquei o final. Talvez eu queira começar dizendo que... Eu gosto de amar as pessoas que eu amo - ou gostava, até que as horas, os dias e as noites resolvessem levá-las embora. E a categoria de velhos amargurados não permite novos amigos. Eu as amava e fazia questão que elas soubessem - um elogio, um comentário sobre como elas eram especiais, um abraço, um aperto de mão. Eu gostava disso. Dos sorrisos. Da alegria, do leve olhar de agradecimento. Estranhamente, essa era uma das poucas coisas que eu sabia fazer bem. Gostar das pessoas. O amor por elas me inundava. E pela humanidade em geral. Apesar das grandes merdas que já vi a humanidade fazer, os seres humanos me enchiam de uma estranha esperança. Como se a chave estivesse ao lado de cada um, e a pessoa simplesmente não a tivesse descoberto ainda. Claro, eu não era um iludido. Estava bem ciente das pessoas más - e das pessoas que eram más, mas achavam que estavam sendo boas (não posso julgá-las - provavelmente, elas achavam o mesmo de mim). De qualquer forma, mesmo com essas claras demonstrações de que a Terra deveria mesmo ser atingida de novo por um meteoro ou algo que o valha, eu acreditava nos seres humanos. E amava aqueles que estavam perto de mim. E já tentei ser uma pessoa fria - mais de uma vez, quando me disseram que o meu amor se tornava menos valioso por ser tão gasto, tão aberto, tão demonstrado. Como se o amor tivesse que ser um segredo, mostrado apenas poucas vezes para as mais selecionadas pessoas, merecedoras disso. Um elogio uma vez por ano. Dizer que ama apenas uma vez a cada cinco luas cheias. Um abraço, em dia de eclipses totais do Sol. Infelizmente, deixei que esse tipo de coisa me parasse uma ou duas vezes, tentei refrear o que sentia, tentei demonstrar menos. Não funcionou. Não era eu, e aparentemente, todo aquele amor que eu deixava de distribuir estava se acumulando em algum lugar, talvez nos meus pulmões e rins. Não de uma maneira boa. Então, simplesmente abracei quem eu sou, meu amor desgastado, aberto, demonstrado, esperado. Ou melhor, quem eu era. E vivi feliz dessa forma - ou melhor, meio feliz, meio sempre triste. Esta aí uma das partes ruins: com todo esse amor pelas pessoas, quando elas ficam mal, você também fica mal. Feliz ou infelizmente, esta foi a minha sina: amar as pessoas.

Até mesmo me esqueci sobre falar qualquer coisa sobre ser um velho amargurado. A verdade é que a amargura vem com os anos, para alguns. Com as perdas. Feliz ou infelizmente, tudo o que você leu acima tem um pouco de mentira e um pouco de verdade. Mas o caro leitor já deve ter aprendido a não confiar em velhos narradores em primeira pessoa.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Galatea depois de cinco dias de vida

Me deixa continuar estátua. Por favor. Porque estátua não sente, estátua não morre. Me deixa continuar estátua - me deixa ficar aqui, quietinha no meu canto, olhando tudo sem ver nada; escutando tudo, sem ouvir nada. E sem sentir nada. Sem sentir nada, sem sentir nada. Me deixa aqui, com um coração de pedra. Mãos de pedra, olhos de pedra, boca de pedra. Assim é melhor. É ruim demais ser gente. Sentir e cheirar e ouvir e tocar... tão superestimado, não acha? Ser uma estátua para sempre. Imóvel. Insensível. Ah, sim. Me deixa aqui, quietinha no meu canto, porque a vida é mais fácil com um coração feito de pedra.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Cara Lorena,

Eu já estava para desligar o computador, já me despedi de todos os meus amigos, quando me ocorreu de ver os comentários do blog e vi o seu. Eu deixo 99% dos comentários sem resposta, mas. Mas o que você disse foi tão bonito e me fez tão bem que você nem sabe. Eu espero que você continue com a janela do seu quarto aberta. Amor para você. ♥

sábado, 27 de outubro de 2012

Day 2 — Your Crush

Carol,

Bem. Digamos que você é atualmente, o que eu tenho mais parecido com o que eu imagino que seja uma crush - ou seja, pensamentos bobinhos, ficar feliz por ver mensagem sua, você curtindo algo que eu publiquei, sabendo que você falou de mim, enfim. Apesar da vida. E da Ingrid, né. Olha, não tô querendo afrontar sua namorada nem nada, até porque você nem lê meu blog, muito menos ela. Então. Parando de enrolar e falando as coisas que eu gostaria de dizer.

O pessoal pensou que minha crush por você só ficou real quando eu fiquei sabendo do teu namoro. Bem, pena que eles não tem acesso ao meu diário e ao texto que eu escrevi sobre duas garotas no primeiro semestre do ano passado, bem antes de Ingrid ser o nome da sua namorada e não da ex-namorada do Henry, de a mulher do viajante do tempo, ou do Dexter, de um dia. Não que eu esteja dizendo que por causa de algum tipo de maldição literária ela vá ser sua ex-namorada. Nem tô torcendo por isso, porque afinal, eu não sou uma personagem antagonista de novela.

Eu só. Bah. Eu lembro quando eu tive que dizer que tinha um sentimentozinho por ti, porque eu estava irritada com toda a história da Ingrid - claro que eu fiquei irritada, porque motivos - e você disse que se eu tivesse falado antes, poderia ser diferente. E eu inventando que queria fazer uma pesquisa de opinião entre os meus amigos para saber qual deles me pegaria, mas era só uma desculpa, porque eu queria saber a sua resposta, especificamente. E você disse que sim, e ainda completou que me achava legal e bonita, que era algo que eu não esperava e me fez agitar as mãos na frente do computador.

O que eu gosto de lembrar é de quando eu ia matar minha aula na sua sala (e de 90% dos meus amigos do Farias Brito, né) e a gente sempre sentava perto e você ficava rindo e surtando comigo. E você robou a lista que eu fiz com o nome dos meus futuros 70 gatos, mas você não vai ser uma velha dos gatos, Carol.

Eu lembro também de você perseguindo as garotas lésbicas/bissexuais do Farias Brito e do ciúme que me dava de ver você indo atrás delas, e eu brincava perguntando se eu já não era suficiente. Bem, bem, não sei se você tomou tudo na brincadeira ou não, mas acho que sim. Acho que sim.

O fato é que tu e a Naile (oi, Naile, espero que você não esteja lendo isso) foram as duas garotas por quem eu mais me senti atraída na vida e principalmente tu, porque... bah. Porque tu é minha crush, né. Eu ficava te mandando mensagens malucas no meio da aula, tu apenas a algumas salas de distância e tu respondia mais malucamente ainda.

Claro que eu tô idealizando tudo - eu nunca estive no teu "círculo principal" de amigos e nem tu nos meus, e a gente nunca chegou a ser confidentes nem nada, mas aqui eu tô falando de um certo tipo de paixão platônica, mas não tão distante. Quero dizer, eu fiquei feliz em sentir o que eu senti por você e até agora, só tive poucos momentos de tristeza em relação a isso. Nem sei mais o que eu tô falando, sabia? Um monte de coisas que tu nunca vai saber, parece.

Agora eu lembro daquela festa com a galera de Harry Potter, na hora em que a gente estava naquela sala de dança e o Ygor entrou, e eu disse para ti "se ele tentar qualquer coisa comigo, eu vou te agarrar! Tu vai ser minha namorada hoje" e tu topou, e aí... aí ele me puxou para ficar perto dele e eu me livrei dele e nem te beijei. Mas eu deveria ter de beijado. Eu deveria ter te beijado.

De qualquer forma. Desejo muita coisa boa pra você, até porque meus sentimentos geram uma dor positiva, e não uma dor negativa meu deus quero morrer alguém me mata como outros já geraram.

Amor,

Morgana.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Cem anos de solidão é solidão pra caramba

Queria estar escrevendo. Queria estar com paciência para ouvir música, queria que algumas músicas não doessem tanto, queria ir até o Farias Brito, queria que alguém me abraçasse, queria estar perto de alguém que se importasse, queria conhecer a Turquia, queria saber se Troia realmente existiu, queria entender porque O Grande Gatsby foi um livro importante, queria que alguém da minha sala gostasse de conversar comigo, queria alguém que me fizesse um elogio aleatório, queria ler alguma coisa que me deixasse realmente feliz (parece que isso, eu fiz), queria que a felicidade durasse mais de meio segundo, queria receber uma mensagem no celular, queria parar de soar tão deprimida e tão chata, queria não estar tão deprimida e tão chata, queria não ser tão deprimida e tão chata, queria que meus amigos não ficassem de saco cheio de mim, queria que meus amigos estivessem perto de mim, queria viajar para Porto Alegre, queria que aqui não fosse tão seco, queria conhecer outros universos, queria conhecer outras galáxias, queria morar em outro planeta, queria compreender um monte de coisas, queria desvendar vários mistérios, queria que a vida não fosse tão curta para todas as coisas que eu queria fazer, queria--

What have we found? The same old fears.

terça-feira, 29 de maio de 2012

today is gonna be the day

Hoje eu acordei com Wonderwall na cabeça. Bem, eu sabia que meu dia ia ser difícil, e a primeira frase da música ecoava na minha cabeça não de um jeito legal, mas como se exclamasse, extremamente sem saco, "hoje vai ser o dia!", um dia terrível, um dia chato. Eu mal cheguei, já tive que aturar gritaria, menina jogando o trabalho no chão, mandando todo mundo pra puta que pariu. Dizendo que tava tudo horrível, gritando comigo... enfim. Foi um dia de cão. Não vou me estender nisso porque é uma longa história, mas resumidamente, me deu uma puta dor nas costas e uma puta dor de cabeça. E Wonderwall tocando na minha cabeça, enquanto eu voltava pra casa, morrendo de fome porque não deu tempo nem de comer alguma porcaria lá pela faculdade. Então, eu chego em casa, ainda tem coisa pra fazer, etc. A Lola me arranha com seus dentes - é, arranha, porque ela não mordeu, só passou os dentes pelas costas da minha mão, que estão vermelhas e ardendo até agora. Eu e a Fatinha resolvemos dar uma andada. Eu volto pra casa. No meu quarto, tem um espelho de corpo inteiro. Aí eu me olhei nesse espelho. Eu poderia falar um monte de coisa, mas basicamente, wonderwall começou a tocar de novo, e eu olhei pro lado e vi o Ed - tá certo, "eu sou o mensageiro" - e pensei, "porra. Como eu sou bonita."

E é isso aí. Esse post inteiro só pra eu ter a liberdade de expressar que hoje, apesar de toda a merda que foi o dia, eu estou incrivelmente bonita. Surpreendentemente.

(daí eu comecei a rir, pensando nos meus amigos e nas pessoas que eu amo e - eu não sou o mensageiro.)

domingo, 20 de maio de 2012

e aí, Ed, o que você fez de útil nesses 19 anos de vida?

Eu tenho uma tendência muito grande a reler - reler livros, posts, respostas. Rever acontecimentos, passar um filme na minha cabeça, tentando entender, tentando encontrar alguma coisa que explique o que eu sinto, ou a razão de eu me sentir como eu sinto, ou sei lá o que. Eu fico buscando dentro de mim algum sentido para milhares de coisas, mas fico tão concentrada em buscar o passo-a-passo do agora que quase não me resta tempo para pensar apenas no agora. Qual o momento em que tudo muda? As coisas simplesmente não acontecem do nada. Deve ter um motivo para eu me sentir assim. Eu não queria ser uma pessoa presa, entendem? Eu queria poder morar em qualquer lugar, um dia me dar uma doida e eu me mudar, sei lá, para o Rio de Janeiro. Quem sabe para Campo Grande? Ou talvez, Manaus, Aracaju, Belo Horizonte. Eu ficava criando destinos na minha cabeça, e imaginando as viagens que eu faria - e isso é algo que me deprime, porque com certeza eu não conhecerei nem um terço dos lugares que eu quero conhecer. Mas então, as pessoas. Eu penso que gostaria de ser um Ed para alguém, só por um segundo, só para sentir que fiz algo de útil na minha vida. Isso é um sonho muito alto, não é? Uma vibe meio Jesus Cristo, vamos ajudar os outros, trálálá. Como é que a gente ajuda os outros sem se ajudar? O Ed foi totalmente altruísta, eu estou sendo meio egoísta. Eu quero mudar - mudar por dentro, ou mudar alguém, ou mudar qualquer coisa -, mas porque eu preciso fazer algo por mim. Para mim. No começo, ele nem sabia o que estava fazendo, mas aí ele foi mudando todas aquelas pessoas, em tantos níveis diferentes... e isso acabou mudando ele. Sem querer. Algumas pessoas dizem que, quando você quer alguma coisa, fica mais difícil você conseguir. Tipo, sei lá, paixão correspondida. Dizem que, quanto mais você pensa nisso, mais longe isso fica de você. Eu já escutei muito isso. Eu nem me importo mais, de certa forma. Às vezes, eu tenho crises de preciso disso, mas depois eu penso que tenho que me amar primeiro. E isso é difícil. Entrar dentro da própria cabeça e encarar a si mesmo como um desconhecido, e pensar que você teria apreço por esse desconhecido - só não tem porque, bem, é você. Daí eu penso nessa coisa, de mudar vidas, mas daí? Talvez seja algo que você goste e guarde com carinho, e recorra a essa lembrança desesperadamente: eu não estou sendo útil agora, mas em algum momento, eu mudei tal pessoa. Deixei uma alteração no mundo. E eu imagino que alguém se ria disso, e diga que mudar uma pessoa não é grande coisa, porque existem milhões de pessoas no mundo, e você não pode salvar todas elas. Mas olha só. Tava vendo um documentário ontem sobre buracos negros, e um cara disse que eles são coisas muito pequenas. Muito pequenas. E olha só o que eles conseguem fazer, né?

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Your ex-lover is dead

Coloquei o gravador na mesa entre nós dois, pedindo para ela começar a contar a história. Ela achou esquisito, ela franziu o cenho pra mim, no começo. Mas ela topou, no final das contas. Tava vestida de preto, o cabelo castanho solto e rebelde, de óculos escuros. Ela não gostava que olhassem seus olhos. Ela pediu um chocolate quente, eu pedi um café, liguei o gravador. Ela olhou para ele, pensando em como começar, respirou fundo. E começou a falar.

Eu o conheci há muito tempo, muito, muito tempo, desde antes de a gente se conhecer de verdade. Mas nessa vida, eu o conheci ainda criança, no funeral do irmãozinho deles. Nossos pais eram amigos. Eu fiquei meio entediada lá, aquele lugar, todo mundo chorando. Eu tinha quatro anos, sabe, nem lembro de verdade, mas imagino que eu tenha ficado assim, mesmo. Então, a gente meio que ficou amiguinhos, uma coisa bem irrelevante. Aí a família dele se mudou, aí eu fiquei por aqui mesmo... Bem, só sei que, quando a gente tinha quinze anos, se reencontrou. Que romântico, tu deve pensar. Bem, foi engraçado, sabe. Ele era um adolescente daqueles trevorosinhos. Muita música gótica, sabe? Ele fumava muito, bebia muito. Ele gostava de escrever, acho que foi isso que mudou tudo. Quer dizer. O que ele escrevia era engraçado. Sabe aquele povo que tem síndrome de que nasceu no século errado? Então, é bem isso. Ele só pensava no século XIX, uma coisa meio surreal. Mas sim, os poemas. Tinham alguns bem legais, de verdade, mas outros... ah, se eu fosse uma moça do século XIX eu gostaria, né? Tinha um amigo dele, também, ele era muito engraçado. Um desses tipinhos pervertidos. Enfim, aí eu me apaixonei por ele. Ele era um cara meio complicado. Ele tinha uns acessos de tristeza... uma coisa que nós temos, normalmente, né? Acho que todo mundo tem uns acessos de tristeza. Mas ele preferia viver preso a essa melancolia. Eu era meio boba, acho, achava isso... romântico? É, sei lá. Ah, eu tinha quinze anos! Não que isso seja desculpa. Pessoas de quinze anos não são bobas, quer dizer, eu era. De qualquer forma... quando eu tinha dezesseis anos, a gente começou a se pegar, né? Hahaha. Isso durou muito... foi bem legal. Ele tinha um pressentimento de que ia morrer cedo. A gente conversava muito... É. Aí um dia, ele saiu. Normal. De carro. Ele tinha 20 anos. Ele tava meio bêbado, bateu. Ficou um tempão no hospital... acabou morrendo. Nossa, eu me senti dilacerada. Ainda sinto. É... ele morreu, o pai dele tava no quarto e um irmão. Aí... aí ele disse que aquilo era uma fatalidade. E morreu. É.

Desligo o gravador, agradeço. Ela toma o chocolate quente, os olhos avermelhados. Termina, dá de ombros e vai embora.

sábado, 31 de março de 2012

they would make your name sing

Você cria histórias inteiras, diálogos e sentimentos, e coloca a mão sobre o queixo, cruza as pernas na altura dos tornozelos e começa a declamar baixinho, como se fossem pequenas poesias que você decorou, do livro de Literatura. Mas todas as histórias vêm de dentro de você, de você para o resto do mundo - mas o mundo não escuta nada, vai da sua boca para seus ouvidos, sai do seu cérebro e volta para seu cérebro, e às vezes você chora e pensa que está sendo ridícula, chorando por algo que você criou, por um sentimento que você mesma inventou. Mas é de verdade. Você é de verdade, então suas histórias são reais. Imagina só, tudo o que tu inventa cria um universo paralelo em que essas coisas acontecem. Você sussurra histórias para as suas mãos, e imagina que não é nada demais, mas alguma coisa grande está acontecendo. E você nem sabe e nem tem como saber, e você é ao mesmo tempo a borboleta e o furacão.

quinta-feira, 22 de março de 2012

A segunda playlist que tá tocando infinitamente na minha cabeça

And I'm the only one and I walk alone and when I see you, I really see you upside down love is not a victory march, it's a cold and it's a broken and you'll never fall in love if you don't fall at all you gave it all, but I want more fuck you fuck you fuck you and all we've been through and I cant't understand why my heart is so broken rejecting yours, so while I'm turning in my sheets and once again, cannot sleep now they're going to bed and my stomach is sick; oh darling, understand: that everything, everything ends.

sábado, 17 de março de 2012

trilha

de dentro para fora.

dá vontade de andar até você e abraçar você e falar que eu amo você, repetidamente, até você entender. eu amo você. isso parece algo tão fraco para se dizer, é a coisa mais forte que existe, mas às vezes as pessoas não conseguem compreender a força disso. meu amor por você tá espalhado pelo meu corpo, pelos meus órgãos, não só pelo meu coração. meus pulmões, meu fígado, meus rins, meus ossos, tudo aqui dentro ama você, mas parece que não dá para entender. você não entende. a profundidade do meu amor por ti. tu acha que é só brincadeira, tu acha que um dia vai passar, mas não vai, não vai. eu vou te amar para sempre, e vou te carregar para sempre dentro de mim, e um dia você será uma linda memória, que vai ser triste porque vai ser uma memória, mas nem por isso menos linda. eu te amo. por favor, aceita isso. aceita, que é a única coisa que eu posso te oferecer.

de mim para você.

sexta-feira, 16 de março de 2012

and it came to me then

Um dia você vai morrer. Não é engraçado? Um dia você vai morrer, meu amor, e tudo que um dia você foi e pensou e desejou e conquistou e perdeu vai se apagar. Um dia você vai morrer, e durante um tempo, pessoas ainda chorarão sua morte, mas então, todas as pessoas que você conheceu vão morrer e você não vai ser nada. Um dia você vai morrer! Essa ideia é tão engraçada e tão absurda. Eu me pergunto, será que eu vou morrer antes de você? Ou você vai morrer antes de mim? A gente vai morrer, um dia. Você quer ser cremado ou enterrado? Será que vai ser uma morte tão calma em que você possa decidir isso? E se você morrer amanhã, num acidente de avião, e seu corpo for queimado? Você foi cremado. Ha. Ha. Ha. Ou então, você cai no mar, e vai servir de comida para sabe-se lá o que. Você vai morrer. Eu vou morrer. Tudo o que um dia eu fui vai se apagar. A vida da gente é uma vela, não é? Em algum momento, a vela acaba. O sentido natural. Algumas vezes, alguém vem e apaga a vela. Algo brusco. Você. Vai. Morrer. Eu fico pensando nisso, várias e várias vezes. Eu me imagino na frente do seu caixão. Quem disse que você vai morrer antes de mim? Deve ser só essa minha mente doente, mesmo. Para ficar pensando em morte, na minha morte, na sua morte. É só para eu me acostumar com a ideia de que, um dia, todas essas sensações, e emoções, e tristezas, e paixões e sabe-se lá o que... Um dia, elas não valerão nada.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

1, 2, 3, 4

1, 2, 1, 2, 3, 4






Give me more love than I've ever had



Make it all better when I'm feeling sad



Tell me that I'm special even when I know I'm not



Make it feel good when I hurt so bad





Barely gettin' mad






I'm so glad I found you



I love being around you



You make it easy





As easy as 1, 2, 1, 2, 3, 4





There's only 1 thing



2 to, 3 words



4 you



I love you



There's only 1 way



2 say those 3 words



That's what I'll do



I love you



Give me more love from the very start



Piece me back together when I fall apart



Tell me things you never even tell your closest friends



Make it fell good when I hurt so bad




Best that I've had




I'm so glad I found you




I love(d) being around

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

And the train ain't even left the station

Em 2010, eu escrevi esse post. Era sobre Fortaleza. Não sei porque eu fiz, naquele momento. Eu só quis escrever como gostava dessa cidade. Eu nem sabia que ia embora, eu nem tinha passagens compradas, eu ainda morava aqui. Hoje eu fui para o Dragão do Mar, e me lembrei que tinha escrito isso.

Eu vou embora. Eu sei que eu provavelmente estou enchendo o saco das pessoas com isso - tá, tá, você vai, e daí? Você tem amigos pela Internet. Brasília é uma cidade legal. Mas uma coisa é...

Quando você abraçou as pessoas mais vezes do que é possível contar. Quando você as beijou, ficou de mãos dadas com elas. Quando as pessoas secaram suas lágrimas, quando você dormiu na mesma cama que as pessoas, quando você deitou a cabeça no colo delas. Quando você mexeu nos cabelos delas, quando elas mexeram nos seus cabelos. Quando vocês se empurraram, se estapearam. Quando vocês escreveram coisas nos cadernos uns dos outros. Quando você escreveu coisas na parte de dentro da porta do armário de uma delas. Quando vocês dividiram fones de ouvido, comida, dinheiro. Quando você pegou ônibus com elas (e sempre era uma coisa engraçada). Quando você dormiu na casa delas, quando elas dormiram na sua casa. Presentes. Dedicatórias. Livros. Jogar Uno. Descobrir novas bandas. War. Xadrez. Quando vocês cantaram músicas juntos, quando vocês estudaram no mesmo colégio, quando vocês estudaram a mesma matéria, quando vocês combinaram de ir estudar, mas só fizeram conversar. Ir ao cinema. Ver filmes juntos. Atravessar a rua do Central para ir comer salgados. Peças de teatro. Brigas. Jogar sundae uma na cabeça da outra.

Quando você amou essas pessoas, quando você ama essa pessoas, e elas sempre estiveram a uma pouca distância. Só pegar o telefone, combinar. Vamos pro Iguatemi, vamos pra Costa Mendes, vamos pro Dragão do Mar. Vamos pra sua casa, venham pra minha casa. Era só uma ligação, algumas horas, uns passos, a campainha, o abraço.

Quando você teve a sorte de encontrar pessoas importantes aqui, ao vivo, em cores, em carne, pele, cabelo. Porque nem sempre é assim, e nem todas as pessoas importantes que eu tenho na minha vida eu já vi pessoalmente. Mas algumas delas, sim. Elas sempre estiveram aqui. E sim, sim, eu ainda falarei com elas por msn, por telefone. Mas eu não irei tocá-las por um bom tempo. Nada de abraços, beijos, carinhos.

Eu penso em vocês e meu coração começa a doer, eu amo tanto vocês, tanto, vocês sabem (porque eu não deixo que vocês esqueçam) que meu nome significa mar belo. Quando eu penso na intensidade do meu amor por vocês, no tamanho dele... Nem o mar é tão grande, nem as ondas são tão fortes, nem os oceanos, tão profundos. Eu só queria repetir infinitamente que eu amo vocês, eu amo vocês, eu amo vocês. E amo essa cidade, porque ela me deu vocês. E amo essa cidade, porque como a Bruna já disse, tem nome de lugar seguro.

É o meu lugar seguro.

Mas só porque vocês estão aqui, e eu andei pelo centro com vocês, eu fui pro Dragão do Mar com vocês, eu vi o mar com vocês. E vocês sempre estarão dentro de mim, sempre. E sempre serão as pessoas mais importantes - e irão aparecer pessoas que um dia, me conhecerão melhor do que vocês me conhecem, e na vida de vocês isso também vai acontecer. Cada um irá encontrar alguém que será o que eu sou hoje. Mas vocês sempre serão os mais importantes, porque vocês me viram crescer, porque vocês declamaram poemas para mim, porque vocês me amaram e me abraçaram, mesmo eu sendo... desse jeito que eu sou, toda defeituosa e esquisita.

Eu amo vocês. Eu amo vocês, e eu só queria que vocês soubessem que... que eu nunca vou me esquecer. Nunca.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

You cry until you laugh

Inglaterra, 15 de dezembro de 1999.

Querido L,

Essa carta nunca chegará até você. Diferente de todas as outras, eu vou entragá-la ao Sr. Wammy dizendo que ele só deve dá-la a você depois de ler, e se achar melhor fazer isso. E ele não vai achar. Ele nunca gostou de alimentar o meu amor por você. Eu quase escrevi o nosso amor, mas que tolice. Você é meu amor, e seu amor é... a justiça? Sim, sim. Eu só acho isso algo tolo de se amar. Como uma mulher vendada vai te ver melhor do que eu? Não vai, não é mesmo? A justiça nunca vai poder corresponder seus sentimentos.

Mas ah. Eu estou divagando, sinto muito. Imagino que o Sr. Wammy já esteja se sentindo constrangido, nesse momento. Mas não me importo. Eu estou sob um leve efeito de bebida, e já passa de uma hora da manhã, e talvez eu nem mesmo envie essa carta. Mas pelo menos, saberei que a escrevi.

Eu só... penso que você é o meu garoto, entende? Aquele para quem a minha cabeça sempre vai voltar, eu sempre vou lembrar, eu vou amar com uma intensidade anormal. Porque eu já me apaixonei de novo. Você gostaria dela, é uma linda garota. Não gosta de jogar detetive, no entanto, isso já te deixaria com um pé atrás. De qualquer forma, eu a amo. Muito, muito, e estou certa de querer passar o resto da minha vida com ela. Mas você...

Quer saber? Deixa para lá. Não vai fazer nenhum sentido você ler isso. Não será justo nem com você, nem com ela. Só fique vivo até o meu casamento, tudo bem? Antes de ser meu amor, você foi meu melhor amigo. E vamos continuar assim. Só... não morra.

Com amor,

Miller.

domingo, 29 de janeiro de 2012

and pray to god he hears you

Eu passei tanto tempo encarando essa tela, ouvindo how to save a life feito uma maluca, deixando que meu choro ficasse preso na garganta pra minha mãe não se preocupar, que ao final disso tudo... eu nem sei o que eu quero escrever. Eu preciso escrever. Eu tô com uma dificuldade péssima de escrita, e é uma merda porque parece que todas as palavras que eu não tô conseguindo escrever ficam se acumulando em cima de mim. Primeiro, no meu coração. Depois, nos meus ombros. Agora elas pesam na minha cabeça, nas minhas costelas, presas nos meus pés. Eu estou tentando escrever o que eu quero escrever, o que eu quero explicar, mas no final, só consigo escrever sobre mim. Eu só quero que isso passe. Essas palavras estão parecendo abutres.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Blackbird

Querida anônima que comentou na carta para o meu pai: eu espero que, apesar de você ter dito que aquele foi seu primeiro e último comentário, você ainda leia isso aqui. Eu não teria como te responder, nem saberia se você veria uma resposta caso fosse colocada no quadrinho de comentário, então vou falar por aqui. Isso tudo é pra te escrever que vai ficar tudo bem. Que eu fiquei de certa forma feliz - por mais que essa situação ruim com meu pai fosse preferível se não existisse, eu fiquei feliz por existir e você se sentir um pouco menos sozinha. É claro, seria bem melhor se não existisse para nenhuma de nós duas, mas é o jeito, não é? Hahaha. Vai ficar tudo bem, linda. Sempre pense nisso, sempre lembre disso. Amor pra você.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

cantando transatlanticism via telefone

"Boa noite."

"Boa noite."

"Durma bem."

"Obrigada, você também."

"Ah... Ok. Ok. Isso é difícil."

"Hahahaha. Vai. Você consegue."

"Ok. Vamos de novo. Boa noite. Durma bem."

"Boa noite. Você também."

"E... eu te amo."

Não é engraçado como o nosso presente é ao mesmo tempo, o meu futuro e o teu passado? Horário de verão sendo poético, olha só.

Day 13 — Someone you wish could forgive you

Pai,

Essa carta vai vir sem música, sem imagem, sem nada. Apenas a verdade dos meus pensamentos, que o senhor nunca vai ouvir. Essas palavras nunca vão te alcançar e se um dia elas chegarem até você, provavelmente será de um jeito amargo e ruim e eu não quero piorar as coisas. Ontem, no carro, o senhor disse que dedicou a vida inteira a mim, e que era frustrante que a gente não conseguisse manter um diálogo. Dedicou a vida inteira a mim. Você acha que isso é algo bom para se dizer a alguém? Eu duvido muito, eu não queria pensar assim, mas o senhor sabe que isso é algo horrível. Isso só deixa tudo pior. Como se você estivesse jogando da minha cara que eu é que estou errada, porque você fez tudo certo. Você abdicou de tudo por mim. Eu me sinto ingrata, eu me sinto mal e infeliz. Eu acho que nasci com o botão "decepcionar seu pai" permanentemente no modo ligado. Eu sei que eu faço tudo errado. Eu sei. Mas por mais que eu tente consertar... Você sabe que eu já sei sua expressão de chateação de cor? Eu sei. Os lábios franzidos, o olhar perdido, tu fica murmurando coisas para si mesmo. Eu fico tensa, e eu prefiro quando você briga. Porque, quando você só fica calado, eu penso: fala, fala, fala, fala. Eu começo a implorar para que o senhor grite comigo, brigue comigo. Eu já estou acostumada. Eu te amo tanto, pai, tanto, tanto, o senhor nem sabe. O senhor adora dizer que me ama demais e que eu nunca vou entender. O senhor adora dizer que eu falo pra todo mundo que você é chato. O senhor adora dizer que eu não posso compreender você. Às vezes, eu quero falar. As palavras chegam até meus lábios, mas eles permanecem fechados, porque eu não quero falar. Não quero estragar tudo. De novo e de novo. Um dia, quem sabe. Por enquanto, eu só queria que você me perdoasse por ter saído tão errada, tão fora dos seus planos e expectativas. Eu odeio expectativas.

Eu te amo. Muito.

Morgana.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

dedos sujos de cinzas

Nesse exato momento, estão queimando alguma coisa na rua em frente a minha casa.

O cheiro de queimado entra pelas janelas, e eu agradeço que estou sozinha. Eu quero sentir esse cheiro. É um cheiro horrível, horrível. Deixa um gosto ruim na minha boca, está fazendo com que meu nariz arda. Eu escuto o barulho das chamas - fui dar uma olhada, são vários pequenos pontos, não é um grande fogo, são pontos de luz e calor. Eu gosto do som. É um som bom de ouvir, os estalos que dá, a sensação que dá. Pena que tem esse cheiro. Parece algo meio bom, meio ruim. O cheiro é ruim, mas o som é bom. E eu preciso sentir as duas coisas, porque se só ouvir, será incompleto.

Nesse exato momento, tem algo queimando dentro de mim.

sábado, 7 de janeiro de 2012

plane-ology

Dois pacotinhos - um com dois biscoitos de limão e outro de batatinhas. Um copo de água, sem gelo, por favor. Deixo os biscoitos de lado, abro o pacote. Olho pela janela. Tô tentando pensar em uma playlist, como as batatas devagar. Eu estou na janela, a cadeira do meio está vazia e a do corredor, ocupada por uma garota um pouco mais velha do que eu. Ela dorme. Eu deveria dormir, também, mas fecho os olhos e despedida. De olhos abertos, também é assim. Despedida. O zumbido do avião é irritante, mexo na minha bolsa procurando o celular. Já deixo no modo avião, eu e minha paranoia de que se ele ficar um segundo do jeito normal, o avião vai cair e todos vamos morrer. Fones de ouvido. Toco a tela, indo para cima e para baixo, sem selecionar nenhuma música. Preciso de uma playlist de alguma coisa, mas na minha cabeça, só tem playlist de despedida. Bebo um grande gole da água, para ver se o que quer que esteja fechando minha garganta vá embora. Não vai. Está de noite, está frio, me encolho o melhor que posso naquele pequeno espaço. De olhos fechados, escolho qualquer música. Começa com um piano e eu continuo de olhos fechados, as pálpebras barrando as lágrimas. Suspiro, limpando os olhos com as pontas dos dedos. Eu não queria isso, mas vai ser isso. Uma playlist de dizer adeus. Com uma única faixa, uma música sem título, o som do meu choro baixinho dentro do avião.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

rodoviária

"É um saco, né?" ele diz, passando a mão pelos cabelos. Nervoso. Ele sempre faz isso quando está nervoso, é uma das milhares de pessoas que faz isso. Clichês do nervosismo: abrir e fechar as mãos, passar os dedos pelos cabelos, tremer a perna. Pegar o maço de cigarros e ficar passando de uma mão para a outra, se decidindo se deve ou não acender outro. Ele olha para mim. Os olhos dele são marrons. Eu nunca perdi muito tempo reparando nos olhos - eu sempre me senti mais atraído pelo sorriso, os lábios finos, dentes grandes, caninos pontudos. Mais como um lobo do que um vampiro, no meu ponto de vista. Ele está esperando uma resposta, olhando com seus olhos marrons. É engraçado que é realmente marrom, a cor que você pensa em castanho. Não é claro, nem é escuro. Fico em silêncio por tempo demais, e ele parece desistir da minha resposta. Desiste de esperar, também, puxa o cigarro e coloca o maço no bolso, então procura o isqueiro. "Ah, merda." murmura. Olha para mim, meio segundo se perguntando se eu tenho um isqueiro. Balanço a cabeça negativamente, devagar. Ele suspira resignado, os ombros caem. Não guarda o cigarro, pega ele entre os dedos e finge que está fumando. "Eu fazia isso quando era mais novo." comenta. Está incomodado com o meu silêncio, mas continuo sem dizer nada. Olho para seu rosto, quero memorizar cada pequeno detalhe. Testa larga, uma cicatriz pequena quase escondida nos cabelos. Sobrancelhas grossas, escuras, ásperas. Olhos marrons. Tem um formato estranho, diferente, são grandes e bonitos, quase puxados. Nariz largo. Lábios finos, dentes grandes. Pele escura, parece pele de gente forte. Quero lembrar, quero lembrar sempre. "Você... se incomodaria de dizer alguma coisa?" me oferece um sorriso nervoso. Sim, eu me incomodaria, penso e continuo em silêncio. Olho ao redor, ninguém está prestando muita atenção na gente. Estamos meio de lado, fora de quadro. Ouço o barulho do motor chegando perto e respiro fundo, fechando os olhos. O que eu poderia dizer? O encaro, tentando fazer com que meus olhos mostrem o que eu estou sentindo. O olhar dele é triste. O ônibus está aqui, as pessoas já estão entrando. Ajeito a mochila nas costas, está na hora. Ele estende os braços para me abraçar, meio tímido, mas eu não posso simplesmente abraçá-lo. E com toda aquela gente ao redor, seguro seu rosto entre as minhas mãos e dou o beijo mais forte de todos. Um beijo pra machucar, pra deixar uma cicatriz, ainda que só na mente. Me separo dele bruscamente, pessoas nos olham, fazem caretas de nojo, provavelmente tem alguma ameaça de morte ao fundo, escuto alguém dizer bichas nojentas, ele me olha, ele sorri e eu sorrio e é o fim. Subo no ônibus, vou sentar ao lado de uma velhinha. Ela sorri para mim e diz "é um rapaz bonito." olho para ela e depois pela janela, e ele está de costas, indo embora. Respiro fundo, inúmeras vezes, e murmuro: "sim. É sim."