quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Day 13 — Someone you wish could forgive you

Pai,

Essa carta vai vir sem música, sem imagem, sem nada. Apenas a verdade dos meus pensamentos, que o senhor nunca vai ouvir. Essas palavras nunca vão te alcançar e se um dia elas chegarem até você, provavelmente será de um jeito amargo e ruim e eu não quero piorar as coisas. Ontem, no carro, o senhor disse que dedicou a vida inteira a mim, e que era frustrante que a gente não conseguisse manter um diálogo. Dedicou a vida inteira a mim. Você acha que isso é algo bom para se dizer a alguém? Eu duvido muito, eu não queria pensar assim, mas o senhor sabe que isso é algo horrível. Isso só deixa tudo pior. Como se você estivesse jogando da minha cara que eu é que estou errada, porque você fez tudo certo. Você abdicou de tudo por mim. Eu me sinto ingrata, eu me sinto mal e infeliz. Eu acho que nasci com o botão "decepcionar seu pai" permanentemente no modo ligado. Eu sei que eu faço tudo errado. Eu sei. Mas por mais que eu tente consertar... Você sabe que eu já sei sua expressão de chateação de cor? Eu sei. Os lábios franzidos, o olhar perdido, tu fica murmurando coisas para si mesmo. Eu fico tensa, e eu prefiro quando você briga. Porque, quando você só fica calado, eu penso: fala, fala, fala, fala. Eu começo a implorar para que o senhor grite comigo, brigue comigo. Eu já estou acostumada. Eu te amo tanto, pai, tanto, tanto, o senhor nem sabe. O senhor adora dizer que me ama demais e que eu nunca vou entender. O senhor adora dizer que eu falo pra todo mundo que você é chato. O senhor adora dizer que eu não posso compreender você. Às vezes, eu quero falar. As palavras chegam até meus lábios, mas eles permanecem fechados, porque eu não quero falar. Não quero estragar tudo. De novo e de novo. Um dia, quem sabe. Por enquanto, eu só queria que você me perdoasse por ter saído tão errada, tão fora dos seus planos e expectativas. Eu odeio expectativas.

Eu te amo. Muito.

Morgana.

Um comentário:

Anônimo disse...

Morgana,

Eu já leio o teu blog há um tempão, mas é a primeira vez - e, provavelmente, a última - que eu comento.
Quero dizer que eu te entendo. O que você sente com relação ao seu pai eu sinto com relação ao meu. Quando eu terminei de ler, pensei: "Porra, até parece que fui eu quem escreveu isso".
Você me fez chorar, Morgana.
E eu mandei isso aqui - este arremedo de comentário - por que agora eu não me sinto mais tão sozinha.