domingo, 21 de novembro de 2010

Fica aqui, ela pediu, segurando a mão dela com muita força. Ela não queria nem ter segurado, para começo de conversa, mas ele quase a obrigou. Quase, é claro, porque não disse segura aqui a minha mão, sua besta. Ele simplesmente a encarou com aqueles olhos castanhos. Olhos castanhos não deveriam ser tão bonitos, ela pensou, são olhos normais, olhos que você vê em qualquer pessoa. Menos na Europa, né, lá olhos castanhos devem ser coisas diferentes. Ou não. Que seja, ela tinha olhos azuis e nem tinha todo esse poder magnético dos olhos castanhos dele, então não importa a cor dos olhos, importa quem está olhando. O mar estava batendo bem nos pés deles, que bom que ele disse para deixar os sapatos mais longe, lá no começo da praia. Que cena romântica, ele murmurou, com um sorrisinho no canto da boca e ela sentiu o rosto ficar vermelho, tão vermelho quanto o céu, enquanto o sol se punha. Ele estava apenas brincando e ela odiava isso, porque ela não estava. Você está tão séria, está tudo bem, ele perguntou, desviando os olhos do céu e do mar para olhá-la. Ela continuou olhando em frente, balançou a cabeça negativamente. Ela pensou que queria fazer um desejo e que, se tivesse certeza de que ele se realizaria, pediria para que nunca o conhecesse. Sabia que talvez sua vida ficasse cem, duzentas vezes mais sem graça sem ele, mas iria desejar isso mesmo assim. Doía demais conhecê-lo, doía quase tanto quanto os dedos se apertando e os grãos de areia arranhando. Doía como aquela luz que cegava, o sol que se punha. Ela parou, respirou fundo e o olhou, mas agora ele que olhava para frente. Fechou os olhos, pensando na besteira que ia fazer, mas no fundo, não importava. Já estava tudo perdido, de qualquer forma. Eu te amo, ela disse, a voz com um tom sofrido indisfarçável. Ele sorriu e a olhou, eu também. Ela arregalou os olhos por uns instantes e balançou a cabeça. Não, você não tá entendendo, eu realmente... ele balançou a cabeça também. Eu entendo sim, eu entendo sim. Ele tornou a olhar para frente e ela respirou fundo, o coração acelerado. Você entende, isso quer dizer que..., ela parecia quase desesperada. Isso quer dizer que é um anoitecer muito bonito, não só porque você está aqui, ele sorriu. Isso quer dizer que, daqui a alguns anos, eu vou me arrepender de ter entendido. Ele ergueu a mão dela e deu um beijinho, soltando-a depois. Ela passou os dedos nos olhos, pegando as lágrimas. Seu idiota, disse com a voz embargada. Eu sei, ele ainda sorria. Seu idiota, seu idiota, seu idiota... Eu sei, eu sei, eu sei...

3 comentários:

N.S. disse...

Não sei se era pra eu falar isso, mas eu achei bonito. i_i

Estevão Arrais disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Estevão Arrais disse...
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