quarta-feira, 14 de setembro de 2011

respira profundamente enquanto encosta as costas na parede

escorrega até o chão dramaticamente como se estivesse num filme, abraça os joelhos e apoia o queixo no tecido grosso das calças jeans, morde o lábio inferior e pensa que seria melhor se pudesse morder até sangrar, queria ter esse tipo de coragem, de se machucar assim, mas não tem, então simplesmente finca as unhas na pele do braço, até ficar bem vermelho, demora um pouco porque ele sempre gosta de roer as unhas, ou melhor, ele não gosta, quando ele vê, ele já está roendo. fecha os olhos e respira profundamente, uma, duas, três vezes e repetidamente, fecha os olhos e fica vendo aquelas luzinhas brancas que aparecem nas pálpebras, como se fossem um filmezinho pessoal, como se seu cérebro estivesse tentando dizer alguma coisa, mas ele não consegue entender nada. tira as unhas da pele, está vermelho, estica as pernas e fica olhando para os pés descalços, pensa por uns instantes que tem pé de retirante nordestino, todo rachado embaixo e pensa também que deveria seguir os conselhos da mãe e andar com chinelos, mas é tão bom andar descalço, ele pensa. ele tenta pensar em outra coisa, ele tenta focar sua mente em pés e unhas e lábios, mas a mente sempre volta pra mesma memória, e ele leu em um poema que em três noites padeci três anos e ele pensa que é exatamente assim, e as lágrimas já estão no seus olhos e escorrem pelo queixo e pelo pescoço e é uma sensação engraçada. respira profundamente e se levanta, ainda com as costas encostadas na parede.

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