sábado, 15 de agosto de 2009

Devaneio

Meu pai está passando uma longa temporada em Brasília. Já está há um mês fora, tirando um final de semana que ele veio me visitar e tudo o mais. Na verdade, mais de um mês. De qualquer forma, é tão estranho falar com ele por telefone - eu tento me despedir sempre o mais rápido possível. E quando é pelo msn, e eu o vejo chorando pela cam?! É mil vezes mais estranho, é esquisito. Eu não sinto saudade. Eu corro para abraçá-lo, digo "eu te amo", digo que "estou morrendo de saudades", mas não sinto nada disso. É tão normal para mim, não estar com ele por perto. Ou ainda: é tão normal para mim, não estar com alguém por perto.

Quando eu era pequena, minha mãe viajava muito (ela ainda viaja, mas agora não é tão relevante assim), e eu morria de saudade. Na minha cabeça, é como se ela viajasse a cada semana; mas acho que era uma vez por mês. Viagens longas. Tem uma imagem que eu não sei se é fruto da minha imaginação ou se é realmente uma lembrança: minha mãe, mexendo no nosso velho computador logo após chegar de viagem e eu sentada atrás dela, olhando. É meio insossa para quem lê, mas mexe de alguma forma no meu coração.

Eu ficava na escola em período integral, desde pequena. Mal parava em casa. Meus pais mal paravam em casa. Minha mãe, então, é sorte se eu a vejo duas vezes num dia (ultimamente não, dada a circunstância da viagem do meu pai, mas vocês captaram). Acho que isso fez com que eu não sentisse saudades - ou não. Tem algumas vezes que eu tenho um aperto muito grande no peito e fico precisando de alguma pessoa, mas passa tão rápido que... Sei lá.

Com a Tangerina adolescente, os pais passam o dia fora e ela passa quase o dia todo na escola. Até nos finais de semana, por exemplo, meus pais saem e eu fico em casa. Se eu saio, gosto de sair com meus amigos. E quando meus pais estão em casa... Eu não gosto de ficar perto. Eu abraço, beijo, assisto filmes com eles, mas é só para que eu não fique parecendo uma filha ruim. É estranho. Meu pai às vezes diz "Quando você era bebê, só queria ficar comigo. Deitava na minha barriga e ficava brincando com os meus óculos". E minha mãe disse, uma vez "Eu acho que seu pai demonstra muito mais o amor do que eu. Eu não sei porque você parece gostar mais de mim ou algo assim, eu nunca fiz nada que merecesse isso."

Álvares de Azevedo (sempre ele, sempre ele!...) amava demais seus pais. Vivia escrevendo cartas à mãe, todas elas terminavam em algo como "Lance sua bênção sobre seu filho do coração" ou "Com amor, do seu filho do coração" ou coisas assim. E ele sempre respeitou muito o pai, como é citado em dois poemas dele ("Ideias Íntimas" e "Lembrança de morrer", se não me engano, para os curiosos), e nem preciso falar da mãe, que recebe um pequeno poema-dedicatória na "Lira dos Vinte anos". Em contraposição, meu amado L é órfão e nada é citado sobre seus pais. Ele não dá a mínima. Ele aparenta não dar a mínima para nada, não sentir falta, nada do tipo.

E... Sinceramente, não tenho nenhum objetivo real escrevendo isso. Não quero por ninguém para pensar ou algo assim. É só um devaneio meu. Sei lá.

Nenhum comentário: