terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Fortaleza, 2009.

"Ceres?"

"Sim?"

"Oi, eu estou ligando de Fortaleza... é que eu estou escrevendo um livro de contos, e eu inclui você. Porque você era a moça mais bela de Fortaleza, nos anos 40. Acho que você ainda é. Quero dizer... seu quadro, na Praça do Ferreira, você lembra?"

Ela ri.

"Sim, sim... com os seios de fora, um escândalo!"

A risada dela, a voz dela, é tudo muito doce. Meus sentimentos de quando eu tinha 16 anos parecem voltar, quase 70 anos depois.

"Então... eu gostaria de saber se você viria para cá. Para a noite de autógrafos. Eu pago a passagem do Rio de Janeiro para cá."

"Eu... não. Me desculpe. Eu não sou mais... eu estou velha, e manchada, e flácida. Eu não sou mais bonita, eu... eu gostaria que Fortaleza se lembrasse de mim como uma moça bonita... eu saí daí bonita, não quero voltar feia. Me desculpe."

"Mas Ceres... você é linda."

Ela ri de novo.

"Não sou, não. Desculpe."

Dou mais umas palavras, mas é inútil. Desligo o telefone com o coração apertado. Eu também estou velho, quis dizer. Sempre fui feio, ninguém nunca pensou em mim como bonito, quando as pessoas te vissem... você seria bonita, Ceres, de qualquer jeito.

Chega 2010, janeiro, o mês da noite de autógrafos e eu ligo mais uma vez, só para ter certeza, só para descobrir que Ceres faleceu no dia dois de janeiro.

4 comentários:

ChuckL disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ChuckL disse...

Juro que eu entendi "Celis" quando ouvi essa história.

Enfim... <3

Rebeca Duarte disse...

Mi. S2

Anônimo disse...

Mas a gente continua pondo um pé na frente do outro...

Adivinha quem é~ Ai, que idiota.