sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

atlântida

ou talvez a gente nunca tenha se conhecido em nenhuma vida passada, nem sido coisa alguma um do outro. essa é a nossa primeira vida juntos, já pensou assim? essa é a nossa primeira vida juntos e isso faz toda a diferença, porque a gente se ama assim por nossa causa e não por causa de coisas que aconteceram antes. irmãos e mais do que irmãos. pela primeira vez e para sempre.

domingo, 25 de dezembro de 2011

começou com uma música dos beatles

começou com i want to hold your hand.

na verdade, começou com eragon. infelicidade total, esse livro é uma merda. mas tu queria ler, tu gosta, tu ainda gosta, tu andava com brisingr debaixo do braço, depois de um tempo. em algum momento, daqueles em que tu ficava lá no meu curso de inglês esperando minha hora de sair ou então matando aula comigo (e como eu matei aquele curso com você!) e aí você disse, na calçada, que sabia que eu era uma boa pessoa, porque eu te emprestei o livro sem nem te conhecer.

sonho de uma flauta, porque a gente brigava demais, porque a gente ainda briga muito, porque tu saia correndo e eu segurava tua mochila, porque tu jogava coisas em mim e eu te arranhava e a gente gritava e chorava, mas aí depois. aí depois.

eu encontrei um comentário meu gigante, dizendo porque eu tinha ficado triste, e falando milhares de coisas, e eu nem consigo me lembrar a razão de a gente ter brigado, mas lá no final tem o "você é tão boa que é triste" - e tem todo aquele eu que tu tinha na cabeça, e que eu gostava do jeito que eu existia aí, e eu lembro de ter te mandado cartões postais da itália e isso foi num dia de pré-direito e tu pulou pra me abraçar.

existiam também as briguinhas de brincadeira, as implicâncias, te chamar de hipster, underground, indie e tudo o mais. revirar os olhos, revirar os olhos. olha que engraçado, começou a tocar elephant gun e eu lembro de quando tu colocou a música pra tocar pela primeira vez, no teu celular, eu acho que a gente tava na casa do zé, sei lá.

depois, teve algum momento da mensagem "você é a minha rock & roll queen", que eu recebi quando estava estudando. e isso ficou na minha cabeça, pra sempre, e eu sempre lembro disso nos momentos mais aleatórios. o cordeiro dizia que a gente era uma banda de rock, mas que ele era um cantor de que mesmo? bossa nova? a gente era agitado, ele era calmo. mas eu e tu fizemos incontáveis post sobre ele e para ele e tivemos incontáveis conversas sobre ele e isso não é sobre ele, não dessa vez. nós dois, eu e você. uma dupla sertaneja. átilindo & morgamor.

eu tô relendo teu blog e meus comentários e tá tudo voltando agora. as palavras ficam vazias, porque são... palavras, não são ações, a gente não tá mudando e tá mudando, a gente tinha prometido pra sempre, mas acabou que.

sei lá, o amor vai ser pra sempre. pelo menos, o meu vai ser. deu saudade de você agora, e sempre, e hoje, e amanhã, e daqui a um bilhão de vidas, quando renascermos feito bactérias, porque a terra vai acabar, e a evolução vai ter que começar de novo, não é? vai que em algum momento eu-célula e você-célula nos juntaremos pra formar um ser humano muito complicado e sentimental.

eu disse que deveria ser impossível amar alguém assim. eu disse isso, eu ainda acho isso. deveria ser impossível amar alguém assim. porque foi um ano inteiro praticamente sem você e ainda vai ser por mais tempo e eu nem sei se essas palavras vão chegar aos seus olhos, quem dirá ao seu coração. mas eu espero. eu espero.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Fortaleza, 2009.

"Ceres?"

"Sim?"

"Oi, eu estou ligando de Fortaleza... é que eu estou escrevendo um livro de contos, e eu inclui você. Porque você era a moça mais bela de Fortaleza, nos anos 40. Acho que você ainda é. Quero dizer... seu quadro, na Praça do Ferreira, você lembra?"

Ela ri.

"Sim, sim... com os seios de fora, um escândalo!"

A risada dela, a voz dela, é tudo muito doce. Meus sentimentos de quando eu tinha 16 anos parecem voltar, quase 70 anos depois.

"Então... eu gostaria de saber se você viria para cá. Para a noite de autógrafos. Eu pago a passagem do Rio de Janeiro para cá."

"Eu... não. Me desculpe. Eu não sou mais... eu estou velha, e manchada, e flácida. Eu não sou mais bonita, eu... eu gostaria que Fortaleza se lembrasse de mim como uma moça bonita... eu saí daí bonita, não quero voltar feia. Me desculpe."

"Mas Ceres... você é linda."

Ela ri de novo.

"Não sou, não. Desculpe."

Dou mais umas palavras, mas é inútil. Desligo o telefone com o coração apertado. Eu também estou velho, quis dizer. Sempre fui feio, ninguém nunca pensou em mim como bonito, quando as pessoas te vissem... você seria bonita, Ceres, de qualquer jeito.

Chega 2010, janeiro, o mês da noite de autógrafos e eu ligo mais uma vez, só para ter certeza, só para descobrir que Ceres faleceu no dia dois de janeiro.

Fortaleza, 1942.

Ceres - Ceres, me dizem, e eu repito infinitamente. Repito dentro da minha cabeça e baixinho, só para provar o nome. Ceres, Ceres. É o nome de uma Deusa, não é mesmo? Muito apropriado, ela é uma Deusa. Eu olho para a fotografia e sei que quase todos ficariam escandalizados - que tipo de moça publicaria uma foto mostrando os seios daquela forma? Mas eles não entendem, Ceres. Eles não entendem que você não é vulgar, você só é bela. Aquela senhora me disse, a mesma que disse o seu nome, que você era a moça mais bela de Fortaleza. Eu vim do interior, é meu primeiro ano aqui e já vi muitas moças bonitas, mas nenhuma como você. A senhora tinha razão, a moça mais bela de Fortaleza. O que um caipira como eu poderia querer com você? Quando você apareceu na Praça do Ferreira e eu estava lá, meu coração quase parou. Tanta gente ia falar com você, Ceres, e você sorria para todos eles, você sorria para todo mundo, você andava pela praça olhando os quadros e quando chegava ao seu, seu sorriso iluminado virava um sorriso tímido. Eu quis falar com você, ensaiei tantas palavras na minha cabeça. Mas o que eu diria? Olá, Ceres, eu amo você? Você nunca iria acreditar, você não ia entender como eu tinha me apaixonado por uma fotografia, ou ainda me falaria que eu não te conhecia de verdade, mas... Mas se existe uma Ceres na minha imaginação, com certeza a Ceres da realidade é melhor. Essa era a minha maior crença. Eu poderia imaginar alguém, mas ele sempre seria melhor na realidade. E você era a moça mais bela de Fortaleza, e para mim, a moça mais bela do mundo. Sempre que eu vou para a Praça do Ferreira, procuro por você, por seu quadro. Não vou te esquecer, Ceres, nunca.