sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Galatea depois de cinco dias de vida

Me deixa continuar estátua. Por favor. Porque estátua não sente, estátua não morre. Me deixa continuar estátua - me deixa ficar aqui, quietinha no meu canto, olhando tudo sem ver nada; escutando tudo, sem ouvir nada. E sem sentir nada. Sem sentir nada, sem sentir nada. Me deixa aqui, com um coração de pedra. Mãos de pedra, olhos de pedra, boca de pedra. Assim é melhor. É ruim demais ser gente. Sentir e cheirar e ouvir e tocar... tão superestimado, não acha? Ser uma estátua para sempre. Imóvel. Insensível. Ah, sim. Me deixa aqui, quietinha no meu canto, porque a vida é mais fácil com um coração feito de pedra.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Cara Lorena,

Eu já estava para desligar o computador, já me despedi de todos os meus amigos, quando me ocorreu de ver os comentários do blog e vi o seu. Eu deixo 99% dos comentários sem resposta, mas. Mas o que você disse foi tão bonito e me fez tão bem que você nem sabe. Eu espero que você continue com a janela do seu quarto aberta. Amor para você. ♥

sábado, 27 de outubro de 2012

Day 2 — Your Crush

Carol,

Bem. Digamos que você é atualmente, o que eu tenho mais parecido com o que eu imagino que seja uma crush - ou seja, pensamentos bobinhos, ficar feliz por ver mensagem sua, você curtindo algo que eu publiquei, sabendo que você falou de mim, enfim. Apesar da vida. E da Ingrid, né. Olha, não tô querendo afrontar sua namorada nem nada, até porque você nem lê meu blog, muito menos ela. Então. Parando de enrolar e falando as coisas que eu gostaria de dizer.

O pessoal pensou que minha crush por você só ficou real quando eu fiquei sabendo do teu namoro. Bem, pena que eles não tem acesso ao meu diário e ao texto que eu escrevi sobre duas garotas no primeiro semestre do ano passado, bem antes de Ingrid ser o nome da sua namorada e não da ex-namorada do Henry, de a mulher do viajante do tempo, ou do Dexter, de um dia. Não que eu esteja dizendo que por causa de algum tipo de maldição literária ela vá ser sua ex-namorada. Nem tô torcendo por isso, porque afinal, eu não sou uma personagem antagonista de novela.

Eu só. Bah. Eu lembro quando eu tive que dizer que tinha um sentimentozinho por ti, porque eu estava irritada com toda a história da Ingrid - claro que eu fiquei irritada, porque motivos - e você disse que se eu tivesse falado antes, poderia ser diferente. E eu inventando que queria fazer uma pesquisa de opinião entre os meus amigos para saber qual deles me pegaria, mas era só uma desculpa, porque eu queria saber a sua resposta, especificamente. E você disse que sim, e ainda completou que me achava legal e bonita, que era algo que eu não esperava e me fez agitar as mãos na frente do computador.

O que eu gosto de lembrar é de quando eu ia matar minha aula na sua sala (e de 90% dos meus amigos do Farias Brito, né) e a gente sempre sentava perto e você ficava rindo e surtando comigo. E você robou a lista que eu fiz com o nome dos meus futuros 70 gatos, mas você não vai ser uma velha dos gatos, Carol.

Eu lembro também de você perseguindo as garotas lésbicas/bissexuais do Farias Brito e do ciúme que me dava de ver você indo atrás delas, e eu brincava perguntando se eu já não era suficiente. Bem, bem, não sei se você tomou tudo na brincadeira ou não, mas acho que sim. Acho que sim.

O fato é que tu e a Naile (oi, Naile, espero que você não esteja lendo isso) foram as duas garotas por quem eu mais me senti atraída na vida e principalmente tu, porque... bah. Porque tu é minha crush, né. Eu ficava te mandando mensagens malucas no meio da aula, tu apenas a algumas salas de distância e tu respondia mais malucamente ainda.

Claro que eu tô idealizando tudo - eu nunca estive no teu "círculo principal" de amigos e nem tu nos meus, e a gente nunca chegou a ser confidentes nem nada, mas aqui eu tô falando de um certo tipo de paixão platônica, mas não tão distante. Quero dizer, eu fiquei feliz em sentir o que eu senti por você e até agora, só tive poucos momentos de tristeza em relação a isso. Nem sei mais o que eu tô falando, sabia? Um monte de coisas que tu nunca vai saber, parece.

Agora eu lembro daquela festa com a galera de Harry Potter, na hora em que a gente estava naquela sala de dança e o Ygor entrou, e eu disse para ti "se ele tentar qualquer coisa comigo, eu vou te agarrar! Tu vai ser minha namorada hoje" e tu topou, e aí... aí ele me puxou para ficar perto dele e eu me livrei dele e nem te beijei. Mas eu deveria ter de beijado. Eu deveria ter te beijado.

De qualquer forma. Desejo muita coisa boa pra você, até porque meus sentimentos geram uma dor positiva, e não uma dor negativa meu deus quero morrer alguém me mata como outros já geraram.

Amor,

Morgana.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Cem anos de solidão é solidão pra caramba

Queria estar escrevendo. Queria estar com paciência para ouvir música, queria que algumas músicas não doessem tanto, queria ir até o Farias Brito, queria que alguém me abraçasse, queria estar perto de alguém que se importasse, queria conhecer a Turquia, queria saber se Troia realmente existiu, queria entender porque O Grande Gatsby foi um livro importante, queria que alguém da minha sala gostasse de conversar comigo, queria alguém que me fizesse um elogio aleatório, queria ler alguma coisa que me deixasse realmente feliz (parece que isso, eu fiz), queria que a felicidade durasse mais de meio segundo, queria receber uma mensagem no celular, queria parar de soar tão deprimida e tão chata, queria não estar tão deprimida e tão chata, queria não ser tão deprimida e tão chata, queria que meus amigos não ficassem de saco cheio de mim, queria que meus amigos estivessem perto de mim, queria viajar para Porto Alegre, queria que aqui não fosse tão seco, queria conhecer outros universos, queria conhecer outras galáxias, queria morar em outro planeta, queria compreender um monte de coisas, queria desvendar vários mistérios, queria que a vida não fosse tão curta para todas as coisas que eu queria fazer, queria--

What have we found? The same old fears.

terça-feira, 29 de maio de 2012

today is gonna be the day

Hoje eu acordei com Wonderwall na cabeça. Bem, eu sabia que meu dia ia ser difícil, e a primeira frase da música ecoava na minha cabeça não de um jeito legal, mas como se exclamasse, extremamente sem saco, "hoje vai ser o dia!", um dia terrível, um dia chato. Eu mal cheguei, já tive que aturar gritaria, menina jogando o trabalho no chão, mandando todo mundo pra puta que pariu. Dizendo que tava tudo horrível, gritando comigo... enfim. Foi um dia de cão. Não vou me estender nisso porque é uma longa história, mas resumidamente, me deu uma puta dor nas costas e uma puta dor de cabeça. E Wonderwall tocando na minha cabeça, enquanto eu voltava pra casa, morrendo de fome porque não deu tempo nem de comer alguma porcaria lá pela faculdade. Então, eu chego em casa, ainda tem coisa pra fazer, etc. A Lola me arranha com seus dentes - é, arranha, porque ela não mordeu, só passou os dentes pelas costas da minha mão, que estão vermelhas e ardendo até agora. Eu e a Fatinha resolvemos dar uma andada. Eu volto pra casa. No meu quarto, tem um espelho de corpo inteiro. Aí eu me olhei nesse espelho. Eu poderia falar um monte de coisa, mas basicamente, wonderwall começou a tocar de novo, e eu olhei pro lado e vi o Ed - tá certo, "eu sou o mensageiro" - e pensei, "porra. Como eu sou bonita."

E é isso aí. Esse post inteiro só pra eu ter a liberdade de expressar que hoje, apesar de toda a merda que foi o dia, eu estou incrivelmente bonita. Surpreendentemente.

(daí eu comecei a rir, pensando nos meus amigos e nas pessoas que eu amo e - eu não sou o mensageiro.)

domingo, 20 de maio de 2012

e aí, Ed, o que você fez de útil nesses 19 anos de vida?

Eu tenho uma tendência muito grande a reler - reler livros, posts, respostas. Rever acontecimentos, passar um filme na minha cabeça, tentando entender, tentando encontrar alguma coisa que explique o que eu sinto, ou a razão de eu me sentir como eu sinto, ou sei lá o que. Eu fico buscando dentro de mim algum sentido para milhares de coisas, mas fico tão concentrada em buscar o passo-a-passo do agora que quase não me resta tempo para pensar apenas no agora. Qual o momento em que tudo muda? As coisas simplesmente não acontecem do nada. Deve ter um motivo para eu me sentir assim. Eu não queria ser uma pessoa presa, entendem? Eu queria poder morar em qualquer lugar, um dia me dar uma doida e eu me mudar, sei lá, para o Rio de Janeiro. Quem sabe para Campo Grande? Ou talvez, Manaus, Aracaju, Belo Horizonte. Eu ficava criando destinos na minha cabeça, e imaginando as viagens que eu faria - e isso é algo que me deprime, porque com certeza eu não conhecerei nem um terço dos lugares que eu quero conhecer. Mas então, as pessoas. Eu penso que gostaria de ser um Ed para alguém, só por um segundo, só para sentir que fiz algo de útil na minha vida. Isso é um sonho muito alto, não é? Uma vibe meio Jesus Cristo, vamos ajudar os outros, trálálá. Como é que a gente ajuda os outros sem se ajudar? O Ed foi totalmente altruísta, eu estou sendo meio egoísta. Eu quero mudar - mudar por dentro, ou mudar alguém, ou mudar qualquer coisa -, mas porque eu preciso fazer algo por mim. Para mim. No começo, ele nem sabia o que estava fazendo, mas aí ele foi mudando todas aquelas pessoas, em tantos níveis diferentes... e isso acabou mudando ele. Sem querer. Algumas pessoas dizem que, quando você quer alguma coisa, fica mais difícil você conseguir. Tipo, sei lá, paixão correspondida. Dizem que, quanto mais você pensa nisso, mais longe isso fica de você. Eu já escutei muito isso. Eu nem me importo mais, de certa forma. Às vezes, eu tenho crises de preciso disso, mas depois eu penso que tenho que me amar primeiro. E isso é difícil. Entrar dentro da própria cabeça e encarar a si mesmo como um desconhecido, e pensar que você teria apreço por esse desconhecido - só não tem porque, bem, é você. Daí eu penso nessa coisa, de mudar vidas, mas daí? Talvez seja algo que você goste e guarde com carinho, e recorra a essa lembrança desesperadamente: eu não estou sendo útil agora, mas em algum momento, eu mudei tal pessoa. Deixei uma alteração no mundo. E eu imagino que alguém se ria disso, e diga que mudar uma pessoa não é grande coisa, porque existem milhões de pessoas no mundo, e você não pode salvar todas elas. Mas olha só. Tava vendo um documentário ontem sobre buracos negros, e um cara disse que eles são coisas muito pequenas. Muito pequenas. E olha só o que eles conseguem fazer, né?

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Your ex-lover is dead

Coloquei o gravador na mesa entre nós dois, pedindo para ela começar a contar a história. Ela achou esquisito, ela franziu o cenho pra mim, no começo. Mas ela topou, no final das contas. Tava vestida de preto, o cabelo castanho solto e rebelde, de óculos escuros. Ela não gostava que olhassem seus olhos. Ela pediu um chocolate quente, eu pedi um café, liguei o gravador. Ela olhou para ele, pensando em como começar, respirou fundo. E começou a falar.

Eu o conheci há muito tempo, muito, muito tempo, desde antes de a gente se conhecer de verdade. Mas nessa vida, eu o conheci ainda criança, no funeral do irmãozinho deles. Nossos pais eram amigos. Eu fiquei meio entediada lá, aquele lugar, todo mundo chorando. Eu tinha quatro anos, sabe, nem lembro de verdade, mas imagino que eu tenha ficado assim, mesmo. Então, a gente meio que ficou amiguinhos, uma coisa bem irrelevante. Aí a família dele se mudou, aí eu fiquei por aqui mesmo... Bem, só sei que, quando a gente tinha quinze anos, se reencontrou. Que romântico, tu deve pensar. Bem, foi engraçado, sabe. Ele era um adolescente daqueles trevorosinhos. Muita música gótica, sabe? Ele fumava muito, bebia muito. Ele gostava de escrever, acho que foi isso que mudou tudo. Quer dizer. O que ele escrevia era engraçado. Sabe aquele povo que tem síndrome de que nasceu no século errado? Então, é bem isso. Ele só pensava no século XIX, uma coisa meio surreal. Mas sim, os poemas. Tinham alguns bem legais, de verdade, mas outros... ah, se eu fosse uma moça do século XIX eu gostaria, né? Tinha um amigo dele, também, ele era muito engraçado. Um desses tipinhos pervertidos. Enfim, aí eu me apaixonei por ele. Ele era um cara meio complicado. Ele tinha uns acessos de tristeza... uma coisa que nós temos, normalmente, né? Acho que todo mundo tem uns acessos de tristeza. Mas ele preferia viver preso a essa melancolia. Eu era meio boba, acho, achava isso... romântico? É, sei lá. Ah, eu tinha quinze anos! Não que isso seja desculpa. Pessoas de quinze anos não são bobas, quer dizer, eu era. De qualquer forma... quando eu tinha dezesseis anos, a gente começou a se pegar, né? Hahaha. Isso durou muito... foi bem legal. Ele tinha um pressentimento de que ia morrer cedo. A gente conversava muito... É. Aí um dia, ele saiu. Normal. De carro. Ele tinha 20 anos. Ele tava meio bêbado, bateu. Ficou um tempão no hospital... acabou morrendo. Nossa, eu me senti dilacerada. Ainda sinto. É... ele morreu, o pai dele tava no quarto e um irmão. Aí... aí ele disse que aquilo era uma fatalidade. E morreu. É.

Desligo o gravador, agradeço. Ela toma o chocolate quente, os olhos avermelhados. Termina, dá de ombros e vai embora.