domingo, 29 de janeiro de 2012

and pray to god he hears you

Eu passei tanto tempo encarando essa tela, ouvindo how to save a life feito uma maluca, deixando que meu choro ficasse preso na garganta pra minha mãe não se preocupar, que ao final disso tudo... eu nem sei o que eu quero escrever. Eu preciso escrever. Eu tô com uma dificuldade péssima de escrita, e é uma merda porque parece que todas as palavras que eu não tô conseguindo escrever ficam se acumulando em cima de mim. Primeiro, no meu coração. Depois, nos meus ombros. Agora elas pesam na minha cabeça, nas minhas costelas, presas nos meus pés. Eu estou tentando escrever o que eu quero escrever, o que eu quero explicar, mas no final, só consigo escrever sobre mim. Eu só quero que isso passe. Essas palavras estão parecendo abutres.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Blackbird

Querida anônima que comentou na carta para o meu pai: eu espero que, apesar de você ter dito que aquele foi seu primeiro e último comentário, você ainda leia isso aqui. Eu não teria como te responder, nem saberia se você veria uma resposta caso fosse colocada no quadrinho de comentário, então vou falar por aqui. Isso tudo é pra te escrever que vai ficar tudo bem. Que eu fiquei de certa forma feliz - por mais que essa situação ruim com meu pai fosse preferível se não existisse, eu fiquei feliz por existir e você se sentir um pouco menos sozinha. É claro, seria bem melhor se não existisse para nenhuma de nós duas, mas é o jeito, não é? Hahaha. Vai ficar tudo bem, linda. Sempre pense nisso, sempre lembre disso. Amor pra você.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

cantando transatlanticism via telefone

"Boa noite."

"Boa noite."

"Durma bem."

"Obrigada, você também."

"Ah... Ok. Ok. Isso é difícil."

"Hahahaha. Vai. Você consegue."

"Ok. Vamos de novo. Boa noite. Durma bem."

"Boa noite. Você também."

"E... eu te amo."

Não é engraçado como o nosso presente é ao mesmo tempo, o meu futuro e o teu passado? Horário de verão sendo poético, olha só.

Day 13 — Someone you wish could forgive you

Pai,

Essa carta vai vir sem música, sem imagem, sem nada. Apenas a verdade dos meus pensamentos, que o senhor nunca vai ouvir. Essas palavras nunca vão te alcançar e se um dia elas chegarem até você, provavelmente será de um jeito amargo e ruim e eu não quero piorar as coisas. Ontem, no carro, o senhor disse que dedicou a vida inteira a mim, e que era frustrante que a gente não conseguisse manter um diálogo. Dedicou a vida inteira a mim. Você acha que isso é algo bom para se dizer a alguém? Eu duvido muito, eu não queria pensar assim, mas o senhor sabe que isso é algo horrível. Isso só deixa tudo pior. Como se você estivesse jogando da minha cara que eu é que estou errada, porque você fez tudo certo. Você abdicou de tudo por mim. Eu me sinto ingrata, eu me sinto mal e infeliz. Eu acho que nasci com o botão "decepcionar seu pai" permanentemente no modo ligado. Eu sei que eu faço tudo errado. Eu sei. Mas por mais que eu tente consertar... Você sabe que eu já sei sua expressão de chateação de cor? Eu sei. Os lábios franzidos, o olhar perdido, tu fica murmurando coisas para si mesmo. Eu fico tensa, e eu prefiro quando você briga. Porque, quando você só fica calado, eu penso: fala, fala, fala, fala. Eu começo a implorar para que o senhor grite comigo, brigue comigo. Eu já estou acostumada. Eu te amo tanto, pai, tanto, tanto, o senhor nem sabe. O senhor adora dizer que me ama demais e que eu nunca vou entender. O senhor adora dizer que eu falo pra todo mundo que você é chato. O senhor adora dizer que eu não posso compreender você. Às vezes, eu quero falar. As palavras chegam até meus lábios, mas eles permanecem fechados, porque eu não quero falar. Não quero estragar tudo. De novo e de novo. Um dia, quem sabe. Por enquanto, eu só queria que você me perdoasse por ter saído tão errada, tão fora dos seus planos e expectativas. Eu odeio expectativas.

Eu te amo. Muito.

Morgana.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

dedos sujos de cinzas

Nesse exato momento, estão queimando alguma coisa na rua em frente a minha casa.

O cheiro de queimado entra pelas janelas, e eu agradeço que estou sozinha. Eu quero sentir esse cheiro. É um cheiro horrível, horrível. Deixa um gosto ruim na minha boca, está fazendo com que meu nariz arda. Eu escuto o barulho das chamas - fui dar uma olhada, são vários pequenos pontos, não é um grande fogo, são pontos de luz e calor. Eu gosto do som. É um som bom de ouvir, os estalos que dá, a sensação que dá. Pena que tem esse cheiro. Parece algo meio bom, meio ruim. O cheiro é ruim, mas o som é bom. E eu preciso sentir as duas coisas, porque se só ouvir, será incompleto.

Nesse exato momento, tem algo queimando dentro de mim.

sábado, 7 de janeiro de 2012

plane-ology

Dois pacotinhos - um com dois biscoitos de limão e outro de batatinhas. Um copo de água, sem gelo, por favor. Deixo os biscoitos de lado, abro o pacote. Olho pela janela. Tô tentando pensar em uma playlist, como as batatas devagar. Eu estou na janela, a cadeira do meio está vazia e a do corredor, ocupada por uma garota um pouco mais velha do que eu. Ela dorme. Eu deveria dormir, também, mas fecho os olhos e despedida. De olhos abertos, também é assim. Despedida. O zumbido do avião é irritante, mexo na minha bolsa procurando o celular. Já deixo no modo avião, eu e minha paranoia de que se ele ficar um segundo do jeito normal, o avião vai cair e todos vamos morrer. Fones de ouvido. Toco a tela, indo para cima e para baixo, sem selecionar nenhuma música. Preciso de uma playlist de alguma coisa, mas na minha cabeça, só tem playlist de despedida. Bebo um grande gole da água, para ver se o que quer que esteja fechando minha garganta vá embora. Não vai. Está de noite, está frio, me encolho o melhor que posso naquele pequeno espaço. De olhos fechados, escolho qualquer música. Começa com um piano e eu continuo de olhos fechados, as pálpebras barrando as lágrimas. Suspiro, limpando os olhos com as pontas dos dedos. Eu não queria isso, mas vai ser isso. Uma playlist de dizer adeus. Com uma única faixa, uma música sem título, o som do meu choro baixinho dentro do avião.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

rodoviária

"É um saco, né?" ele diz, passando a mão pelos cabelos. Nervoso. Ele sempre faz isso quando está nervoso, é uma das milhares de pessoas que faz isso. Clichês do nervosismo: abrir e fechar as mãos, passar os dedos pelos cabelos, tremer a perna. Pegar o maço de cigarros e ficar passando de uma mão para a outra, se decidindo se deve ou não acender outro. Ele olha para mim. Os olhos dele são marrons. Eu nunca perdi muito tempo reparando nos olhos - eu sempre me senti mais atraído pelo sorriso, os lábios finos, dentes grandes, caninos pontudos. Mais como um lobo do que um vampiro, no meu ponto de vista. Ele está esperando uma resposta, olhando com seus olhos marrons. É engraçado que é realmente marrom, a cor que você pensa em castanho. Não é claro, nem é escuro. Fico em silêncio por tempo demais, e ele parece desistir da minha resposta. Desiste de esperar, também, puxa o cigarro e coloca o maço no bolso, então procura o isqueiro. "Ah, merda." murmura. Olha para mim, meio segundo se perguntando se eu tenho um isqueiro. Balanço a cabeça negativamente, devagar. Ele suspira resignado, os ombros caem. Não guarda o cigarro, pega ele entre os dedos e finge que está fumando. "Eu fazia isso quando era mais novo." comenta. Está incomodado com o meu silêncio, mas continuo sem dizer nada. Olho para seu rosto, quero memorizar cada pequeno detalhe. Testa larga, uma cicatriz pequena quase escondida nos cabelos. Sobrancelhas grossas, escuras, ásperas. Olhos marrons. Tem um formato estranho, diferente, são grandes e bonitos, quase puxados. Nariz largo. Lábios finos, dentes grandes. Pele escura, parece pele de gente forte. Quero lembrar, quero lembrar sempre. "Você... se incomodaria de dizer alguma coisa?" me oferece um sorriso nervoso. Sim, eu me incomodaria, penso e continuo em silêncio. Olho ao redor, ninguém está prestando muita atenção na gente. Estamos meio de lado, fora de quadro. Ouço o barulho do motor chegando perto e respiro fundo, fechando os olhos. O que eu poderia dizer? O encaro, tentando fazer com que meus olhos mostrem o que eu estou sentindo. O olhar dele é triste. O ônibus está aqui, as pessoas já estão entrando. Ajeito a mochila nas costas, está na hora. Ele estende os braços para me abraçar, meio tímido, mas eu não posso simplesmente abraçá-lo. E com toda aquela gente ao redor, seguro seu rosto entre as minhas mãos e dou o beijo mais forte de todos. Um beijo pra machucar, pra deixar uma cicatriz, ainda que só na mente. Me separo dele bruscamente, pessoas nos olham, fazem caretas de nojo, provavelmente tem alguma ameaça de morte ao fundo, escuto alguém dizer bichas nojentas, ele me olha, ele sorri e eu sorrio e é o fim. Subo no ônibus, vou sentar ao lado de uma velhinha. Ela sorri para mim e diz "é um rapaz bonito." olho para ela e depois pela janela, e ele está de costas, indo embora. Respiro fundo, inúmeras vezes, e murmuro: "sim. É sim."