domingo, 25 de abril de 2010

Que fatalidade

(Álvares, e meus dedos tateiam no escuro em busca de uma luz. Álvares, a superfície das paredes é úmida demais, gelada demais. Álvares, e meus joelhos cedem e eu corto as mãos no chão áspero. Álvares, Álvares, Álvares.

Meus olhos queimam com as lágrimas e não há luz ou vida. Não há escapatória)

O que eu farei agora? Como respirar, como sentir, como amar? Nunca hei de amar mais ninguém além dele! Casar-me-ei com um qualquer, combinado pelo meu pai com um desconhecido e então... nada. Vazio, escuro. Onde está minha felicidade? Onde está minha razão de levantar todas as manhãs? Tantos versos agora estão na minha cabeça, por que eles não me deixam em paz? Por que não me deixam esquecer? Estou sufocada, sufocada!... Minha cabeça dói, meu corpo dói, minha alma dói. Meu coração parece ter parado de bater, ou ainda, parece um coração feito de pedra! Onde irei encontrar felicidade agora? Parece-me estúpido dizer que minha felicidade existe só com ele, mas é a verdade! Como irei sorrir com a lembrança de seus lábios, de seu toque... agora para sempre apagados? Queria que minha memória morresse também! Queria esquecer de tudo, minha vida seria menos vazia do que está agora... Ah, que fatalidade! Que fatalidade que se abateu sobre mim, sobre a família dele, sobre tudo! Onde está o meu colorido da vida? Nem mais o piano será o mesmo sem ele para observar... Ouço já as melodias melancólicas que hei de tocar! Não há mais o que se fazer, não há como lutar contra a Indesejada... que foi tão desejada por ele! Mais do que eu ou que qualquer outra musa! E agora, que achas? Ela o levou de mim, ao menos espero que a morte tenha sido tudo aquilo que ele esperava... Ou não! Sou egoísta e prefiro pensar que ele sofre, sofre e pena sentindo minha falta! Ah, nunca fui pura, nunca fui a virgem de seus devaneios, mas era a mim que ele amava... E eu irei amá-lo, para sempre! Quando a Morte resolver me levar para junto dele, irei de cabeça erguida. Posso até deitar com outro homem na cama, mas sempre estarei pensando nele. Ah, meu pai, que fatalidade! Irei esperar por você, Morte, irei esperar por você, Manuel... irei esperar pela fatalidade que me arrastará desse mundo! Mundo? Isso é exagero, meu mundo é apenas ele...

(Maria Serafina não aguentou e morreu de tristeza dia 12/09/1852)

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