x sobre as coisas que você vai perder
capa: eu, sentada num banco, só. Usando calças jeans, meu all-star veterano de guerra, uma blusa branca. Os cabelos desbotados, desarrumados, acima do ombro. Olhando para o chão – talvez, segurando uma flor. Daquelas pequeninhas, que plantam no meio da rua.
prólogo: apenas uma foto, ocupando quase toda a página. Somos nós. É o mesmo banco, mas dessa vez, eu estou com você. Você está rindo e eu estou fazendo bolhas de sabão. O céu está bem, bem, bem azul e eu nunca vou deixar de desassociar esse tom de azul a você. Dessa vez, eu estou de vestido, porque quando uso vestido, estou feliz. E estou contigo, estou feliz. Você está usando jeans, all-stars e uma blusa daquelas de abotoar na frente, que são as minhas preferidas em você. Mesmo que não combinem com jeans ou all-stars. Quem usa é você e está combinando. Embaixo da foto, escrito com caneta preta, está a seguinte frase: qualquer dia de primavera, perdido em qualquer ano do infinito que é a vida – eu e você.
página em branco.
páginas um e dois: várias fotos dessa vez, pequenas. Nós dois, no meu aniversário, trancados no quarto. Dá quase para ouvir os risinhos do lado de fora. Estamos corados. Outra foto: você segurando minhas mãos, com o rosto bem perto do meu, meus olhos quase fechados. Passamos para outra, e é seu aniversário e estou te empurrando contra a parede do seu quarto, rindo e você ri também. Tem mais e mais fotos, de beijos roubados e beijos planejados. A página dois termina com uma foto só, de nossas mãos dadas. Não tem legenda. Não precisa.
página três: é a sua letra – caneta preta, de novo. Nós gostávamos de canetas pretas. Tem coisas escritas, começa escrevendo meu nome numa tentativa de letra bonita, mas a tua letra é feia e isso me faz sorrir. E então, você continua depois da vírgula aquela cartinha que é quase poética e diz: e nossa história não estará pelo avesso assim, sem final feliz. Teremos coisas bonitas pra contar. E até lá, vamos viver – temos muito ainda por fazer. Não olhe para trás, apenas começamos.
página quatro: é uma foto sua. Fazendo um coração, sorrindo, mordendo o lábio inferior. O cabelo preto bagunçado, a pele bronzeada, os olhos tão grandes e escuros. Essa foto não tinha legenda, mas depois de tudo, eu acabei por legendá-la. Caneta preta, é de caneta e eu não quero usar corretivo para apagar, apesar de sempre chorar quando leio: sem saber que o pra sempre sempre acaba.
página cinco até página dez: são tantas, tantas fotos. Somos nós, tantas vezes, de tantas formas diferentes. Somos nós e tudo o que foi, e nunca o que poderia ter sido, porque você deixou tudo escrito à caneta preta de lado. Usamos canetas coloridas, algumas vezes, para escrever as frases de nossas músicas preferidas ao lado de algumas fotos. Fotos de nós dois dividindo fones de ouvidos, folhas de caderno, segredos, risadas, beijos, abraços, mãos dadas, bolhas de sabão. Somos nós – e agora que você acabou com tudo, somos eu e você. Não tem mais nós. Mas ainda tenho as fotos, as fotos, as fotos. Todas com legendas. Todas com corações. É engraçado, depois de um tempo, desenhei no final da página dez outro coração. Partido.
epílogo: outra foto que ocupa toda a página. Eu encolhida contra a porta da casa, saia, botas, blusa de alça, o cabelo bagunçado. Eu encolhida contra a porta da casa, as mãos no rosto. Dá para ouvir o choro só de ver. Mas é uma foto mais complexa que isso – mostra você, do outro lado da porta, de pé, a mão na cabeça, olhando para cima. Problemas demais. Eu não legendei a foto. Ela fala por si só.
contracapa: o banco, a flor que eu segurava em cima dele e você, uma mão sobre a flor, outra sobre o rosto. Está sozinho.
(eu não sou de pedir comentários, mas dessa vez, por favor, eu preciso que alguém diga qualquer coisa. Pensem em apelos desesperados, haha)
Quero falar um pouco sobre "A Baleia"
Há um ano
5 comentários:
Não sou boa nisso, mas... lindo, e dá pra entender perfeitamente o que ela/tu sente.
:*
Eu também não sou bom nisso. Achei o texto lindo. Sabe o que é engraçado? Enquanto eu lia, eu enxergava tudo como se fossem vários quadros pintados na cor pastel e alguns detalhes carmesim, como as flores e os detalhes do vestido.
Eu imaginei Capitu na moça - pelo menos, a saia do final era a dela, a de Capitolina jovem, riscando o chão.
Como eu falei uma vez, eu desejo tanto um dia poder ver pelos seus olhos, aí,eu poderia entender tanta, mas tanta coisa...
Ah, a música tema é Postcards From Italy: http://www.youtube.com/watch?v=RjzVbXeD_8E
Droga, Morg. Isso foi tão cheio de sentimento que meu coração se apertou e depois ficou batendo bem rápido. Eu imaginava o que você escrevia e eu...Bom, eu queria estar aí para te dar um abração e dizer o quanto isso me tocou.
Ficou um amor (L)
(que merda de comentário, hein =/ )
não preciso nem dizer tudo que eu sempre digo. você me orgulha mt.
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