quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Fique,

se você quiser me amar, fique.

Era o jeito como ele cantava, como se estivesse drogado. Arrastando-se. Ninguém ali entendia - acho que ninguém nem prestava atenção nele, sobre aquele palco, segurando o microfone com as duas mãos. Ele parecia tão nervoso! Eu tive vontade de pegar meu café e dar para ele, mas isso iria atrapalhar, não era? Atrapalhar o jeito estranho de como sua cabeça pendia, ou atrapalhar sua voz arrastada de drogado. Era só o nervosismo dele, provavelmente - ele não tinha cara de quem se droga. Pode parecer preconceito da minha parte, mas ele não tinha aqueles olhos... sabe? Aqueles olhos perdidos ou tristes que eu via normalmente nos caras que cantavam lá. Parecia que ele queria ser algo que não era - aquelas roupas pretas e as munhequeiras me diziam isso. Quando ele acabou de cantar, ninguém fez nada, todos continuaram conversando. Ele respirou fundo e desceu do palco, indo pegar uma água. Fiquei olhando para os outros caras da banda - o baterista estava jogando suas baquetas para cima e pegando, o guitarrista e o baixista conversavam algo baixinho entre si. O vocalista chegou ao balcão ao mesmo tempo que eu me levantei e fui até lá. "Você canta bem," falei baixinho. Ele olhou para mim, surpreso demais. Os olhos dele eram muito azuis - pareciam muito negros para mim, vistos do palco, mas de perto eram azuis demais. Azul-claros, azul-pálidos. "Obrigado," ele respondeu, abrindo a água e tomando um gole da garrafa. "Mesmo. Quer dizer, eu estava bem nervoso..." ele desviou os olhos azuis demais e eu sorri um pouco. "Dava para ver," murmurei. "Mas sua voz é muito legal, mesmo. Qual o seu nome?" "Baco," ele respondeu com um sorriso. Arqueei as sobrancelhas. "Do deus do vinho?" perguntei, só para confirmar. "É," ele riu. "E o s..." "Ei, Baco, volta para cá!" o baixista gritou e ele olhou para mim com os olhos azuis arregalados de novo. "Tenho que voltar... desculpe," e foi correndo para o palco. Suspirei e olhei para ele uma última vez, parecia mais relaxado. Sorri. Deixei o dinheiro em cima do balcão e fui embora.

2 comentários:

Bianca Caroline Schweitzer disse...

legal! :)

Stefany Monteiro disse...

E esse modo de colocar em primeira pessoa me faz pensar se não está de novo imaginando coisas para si com finais tristes.
Fora isso, o texto está ótimo e legal de um jeito boêmio... Não me peça para explicar, só entenda que adorei.
♥~