quinta-feira, 16 de julho de 2009

Harry Potter

E quando eu fecho os olhos, eu consigo ver aquela menininha de recém seis anos de novo. Praticamente cinco, venhamos e convenhamos. Ela lá, morrendo de sono, no Natal daquela cidade interiorana onde sua avó materna mora. Eis que uma das garotinhas que moram lá - essa só tem quatro anos - senta-se na poltrona ao lado da que a garotinha estava. A garotinha está morrendo de cansaço, assistindo algum especial da Globo. "Teu pai disse que teu padrinho mandou um presente para ti!" fala a outra. A garotinha move os olhos, sonolenta. "É mesmo?" murmura. Levanta-se, com aquele ímpeto sonolento que só as crianças tem, de mover-se para buscar presente. Vai para a calçada, onde toda a família se reunia. "Pai, qual o presente que o padrinho mandou?" ela pergunta na sutileza infantil. O pai ri e a toma pela mão, levando-a para o quarto onde eles três (a mãe, o pai e a garotinha) dormiam. Ele remexe a mala. Tira de lá um embrulho retangular e vermelho. Ela franze o cenho - não parece haver um briquedo lá dentro. Ou uma maldita roupa, o que já é algo bom. Pega o embrulho vermelho na mão e mexe nele, interessada. O que seria aquilo? Começa a mexer nele. "Não vai abrir?" o pai indaga. "Ah!" ela exclama e abre o pacote. Abre tão delicadamente que a primeira coisa que acontece é o negócio cair no chão. E ela vê.

"Ré... Ré... Répórter?" ela não consegue pronunciar o nome que há na capa. "O que é 'filosofal'?" pergunta, segurando o livro com força entre as mãos. E solta um suspiro. Como é grosso! "Harry Potter." o pai corrige, divertido. "E... Bem, isso eu não sei. Você vai ter que ler." ele fala. Ela olha para ele e olha para o livro grosso em suas mãos. Ela só tem praticamente cinco anos. Ela respira fundo - a festa estava chata mesmo. Começa a despir-se e fica só com a calcinha - é verde, folgada, tem lacinhos do lado e o rosto de uma menininha no bumbum. Senta-se na cama e abre. O pai sorri e sai do quarto, deixando-a sozinha com seu primeiro grande amigo.

(24 de dezembro de 2000)

Obrigada pela noite mais inesquecível da minha vida.

Um comentário:

ChuckL disse...

O mais bonitinho é que você lembra de tudo. Até da calcinha. Queria ter uma memória assim...

♥ ~