segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Postcards from Italy

Oi.

Sabe, você sabe que é para você, não é uma carta dos 30 Dias. É só uma mensagem. E é para você. Eu sinto saudade de você. E vontade de conversar com você. Como a gente fazia quando matava aula e coisa e tal. Eu queria te dizer umas coisas, umas milhares de coisas, mas a minha boca amarga só de pensar. Não é nada ruim de ti. Não é nada ruim de mim, também, só são coisas ruins. Mas meu coração bate tão forte e tão dor que eu não digo. Eu queria te dizer também para querer parar de ver o mundo do meu jeito. Do meu jeito, você iria querer chorar o tempo todo. Quando visse uma família na rua, você iria chorar. Quando visse um viciado em crack roubando a própria mãe, você iria chorar. Quando ouvisse a notícia de que uma criança foi violentada e morta em seguida, você ia chorar tanto, mas tanto que não ia aguentar. Quando ouvisse histórias de amor que não deram certo, você iria querer se matar de tanto medo do mesmo acontecer contigo. Mas o mesmo já estaria acontecendo contigo, e você não iria se matar. Se tu visse o mundo do meu jeito, acharia ridículo olhar-se no espelho, para ver sempre o mesmo rosto feio, o mesmo corpo feio, ouvir a mesma voz irritante.

Eu não quero que você veja o mundo como eu. Com a minha tristeza, com a minha desesperança, com a minha esperança total. Com a minha saudade. Com o meu amor incodicional por tudo e por todos. Com meu ódio por tudo que eu não consigo amar. Com a minha falta de indiferença.


Meu anjinho de cabelos enrolados, eu não julgo o modo como você vê o mundo. Eu não acho que seja melhor ou pior do jeito que eu vejo, mas é diferente. É o seu modo. E sobre o amor... você apenas ainda não entende. Só vê em parte, mas logo verá face a face.

Sobre os SMS dos teus itens enviados, tomara que dê certo. Não só sobre ela ou sobre ele, enfim, tomara que dê tudo certo para ti, de todas as formas possíveis.
Tomara que tudo dê certo. Pronto. E tomara que, um dia, você me abrace e depois procure meu cheiro na sua camisa.
Com amor, sempre,
Harry Porta.





(criei até uma tag nova, haha ♥)

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O teu medo de ter medo de ter medo

x sobre as coisas que você vai perder

capa: eu, sentada num banco, só. Usando calças jeans, meu all-star veterano de guerra, uma blusa branca. Os cabelos desbotados, desarrumados, acima do ombro. Olhando para o chão – talvez, segurando uma flor. Daquelas pequeninhas, que plantam no meio da rua.

prólogo: apenas uma foto, ocupando quase toda a página. Somos nós. É o mesmo banco, mas dessa vez, eu estou com você. Você está rindo e eu estou fazendo bolhas de sabão. O céu está bem, bem, bem azul e eu nunca vou deixar de desassociar esse tom de azul a você. Dessa vez, eu estou de vestido, porque quando uso vestido, estou feliz. E estou contigo, estou feliz. Você está usando jeans, all-stars e uma blusa daquelas de abotoar na frente, que são as minhas preferidas em você. Mesmo que não combinem com jeans ou all-stars. Quem usa é você e está combinando. Embaixo da foto, escrito com caneta preta, está a seguinte frase: qualquer dia de primavera, perdido em qualquer ano do infinito que é a vida – eu e você.

página em branco.

páginas um e dois: várias fotos dessa vez, pequenas. Nós dois, no meu aniversário, trancados no quarto. Dá quase para ouvir os risinhos do lado de fora. Estamos corados. Outra foto: você segurando minhas mãos, com o rosto bem perto do meu, meus olhos quase fechados. Passamos para outra, e é seu aniversário e estou te empurrando contra a parede do seu quarto, rindo e você ri também. Tem mais e mais fotos, de beijos roubados e beijos planejados. A página dois termina com uma foto só, de nossas mãos dadas. Não tem legenda. Não precisa.

página três: é a sua letra – caneta preta, de novo. Nós gostávamos de canetas pretas. Tem coisas escritas, começa escrevendo meu nome numa tentativa de letra bonita, mas a tua letra é feia e isso me faz sorrir. E então, você continua depois da vírgula aquela cartinha que é quase poética e diz: e nossa história não estará pelo avesso assim, sem final feliz. Teremos coisas bonitas pra contar. E até lá, vamos viver – temos muito ainda por fazer. Não olhe para trás, apenas começamos.

página quatro: é uma foto sua. Fazendo um coração, sorrindo, mordendo o lábio inferior. O cabelo preto bagunçado, a pele bronzeada, os olhos tão grandes e escuros. Essa foto não tinha legenda, mas depois de tudo, eu acabei por legendá-la. Caneta preta, é de caneta e eu não quero usar corretivo para apagar, apesar de sempre chorar quando leio: sem saber que o pra sempre sempre acaba.

página cinco até página dez: são tantas, tantas fotos. Somos nós, tantas vezes, de tantas formas diferentes. Somos nós e tudo o que foi, e nunca o que poderia ter sido, porque você deixou tudo escrito à caneta preta de lado. Usamos canetas coloridas, algumas vezes, para escrever as frases de nossas músicas preferidas ao lado de algumas fotos. Fotos de nós dois dividindo fones de ouvidos, folhas de caderno, segredos, risadas, beijos, abraços, mãos dadas, bolhas de sabão. Somos nós – e agora que você acabou com tudo, somos eu e você. Não tem mais nós. Mas ainda tenho as fotos, as fotos, as fotos. Todas com legendas. Todas com corações. É engraçado, depois de um tempo, desenhei no final da página dez outro coração. Partido.

epílogo: outra foto que ocupa toda a página. Eu encolhida contra a porta da casa, saia, botas, blusa de alça, o cabelo bagunçado. Eu encolhida contra a porta da casa, as mãos no rosto. Dá para ouvir o choro só de ver. Mas é uma foto mais complexa que isso – mostra você, do outro lado da porta, de pé, a mão na cabeça, olhando para cima. Problemas demais. Eu não legendei a foto. Ela fala por si só.

contracapa: o banco, a flor que eu segurava em cima dele e você, uma mão sobre a flor, outra sobre o rosto. Está sozinho.









(eu não sou de pedir comentários, mas dessa vez, por favor, eu preciso que alguém diga qualquer coisa. Pensem em apelos desesperados, haha)

sábado, 21 de agosto de 2010

Eu você Fortaleza

Não importa.

Não importa os nossos poros totalmente abertos, gotas imensas de suor saindo pela testa, pela nuca, pelos braços. Não importa passear pelo Dragão do Mar às três da tarde, ou sair andando pelo centro ao meio dia. Não importa as milhares de reclamações pelo calor, pelas gagantas secas, pelos olhos ardendo, pelas respirações ofegantes.

Não importa nem quando sentamos num banco da Praça do Ferreira e vem um cara nos oferecer maconha. Não importa que a Academia Cearense de Letras fique num dos lados mais perigosos do centro. Nem que a Praça dos Leões tenha se tornado um prostíbulo.

Não importa que ninguém se banhe na Praia de Iracema, com aquele mar nojento. Não importa que a Praia do Futuro esteja tão lotada de barracas que não tem nem lugar para estacionar. O que importa é correr descalço pela areia que queima a sola dos pés até chegar ao mar.

Não importa que exista a Fortaleza-Aldeota e a Fortaleza-Resto-da-Cidade. Não importa a porra dos buracos acabando com os carros, as greves de ônibus, os colégios pichados, a porra da Luiziane fazendo propaganda da própria mãe para as eleições.

Não importa.

Eu olho para o mar, as ondas que se arrastam, e eu vejo o próprio Dragão do Mar impedindo os escravos de serem comercializados. Eu olho para a Praça dos Leões e vejo as mulheres passeando com seus irmãos. Eu olho para a Igreja-cujo-nome-não-lembro e vejo os escravos sendo enterrados. Eu vejo todas essas coisas.

Vocês me fazem ver. Obrigada.

(verdes mares bravios de minha terra...)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Breve explicação fotográfica com legenda

It was only a kiss.

O sinal está fechado para nós.
Tive medo e não consegui dormir.

Olha só o que eu achei: cavalos marinhos.
É ter por quem nos mata lealdade.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Eleanor Rigby

Eleanor Rigby gostava da igreja. Talvez porque houvesse passado tantos e tantos anos da sua vida lá. Quando era menina, sua mãe fazia ir todos os domingos. Quando se casou, naquela mesma igreja. E quando John se foi - ah, seu John! - naquela maldita guerra... Quem mais via as lágrimas que rolavam pelo rosto de Eleanor Rigby era a Virgem Maria. Talvez porque ninguém mais se importasse. Talvez porque a única pessoa que ia se ajoelhar naqueles bancos velhos de madeira era a senhora Rigby. Que as crianças conheciam só de nome, os adultos já não se importavam, afinal, ela vivia há tanto tempo naquela casa, sozinha... Nem o padre McKenzie se importava tanto assim. Sabia que ambos estavam presos às suas solidões e não queria interferir nisso. Não gostava de interferir. Eleanor já era conhecida como a senhora solitária e nada mudaria isso. Eleanor Rigby gostava de apoiar os braços na janela e lembrar quando era moça e John estava ao seu lado. Mas John Rigby estava morto e Eleanor Rigby era só uma senhora solitária. Quando Eleanor Rigby morreu, ninguém foi ao enterro. Padre McKenzie parou de costurar suas meias e foi sozinho ao cemitério, enterrando-a. Rezou baixinho pela alma solitária de Eleanor Rigby e voltou para casa. De novo, sozinho. Ninguém estava salvo.



Eleanor Rigby chegou ao céu e não estava mais tão só assim.

domingo, 8 de agosto de 2010

Day 24 — The person that gave you your favorite memory

Como poderei viver
Como poderei viver
Sem a tua, sem a tua
Sem a tua companhia?

Vamp's,

A maior parte dessa carta á unicamente para você, mas devemos dar uma menção honrosa para o Cord. Afinal, minhas memórias preferidas todas tiverem você, mas aquela é especial. E eu não ligo de estar imitando o Cord nisso, porque a importância foi a mesma, para os três. Ron, Harry e Hermione aprenderam isso lutando contra um trasgo montanhês, a gente aprendeu brincando nas estufas.

Quando eu lembro daquela viagem - dela como um todo, incluindo os momentos anteriores, nós três sentados numa mesa do FB2 trocando livros - me dá uma saudade tão grande... Mas é ma saudade gostosa, um calor no peito. Porque fomos nós três lá, nós três brincando de pegar gravetos no chão e jogar feitiços, nós três duelando, eu e o Cord falando que quando você lesse o quinto livro iria entender o ódio pela Dolores.

Essa memória merece um destaque especial e eu comecei por ela. Mas você não me deu só uma memória favorita, Vamp's, você me deu várias. Que são especiais para mim, porque você estava lá. Uma das coisas que eu mais lembro é quando eu não consegui te beijar. Você lembra de Rudy e da Liesel? Ah, mas não terminou de ler A Menina... Posso apenas dizer que eu era o Rudy, implorando seus beijos você era a Liesel. E quando você aceitou, eu tive medo e deixei para lá. E olhando de dentro isso me deixa tão feliz, porque prova que eu tenho alguma coisa... diferente do que eu acho que sou.

Você faz com que eu acredite em mim, Vamp's, e não existem palavras no mundo para agradecer isso.

Eu gosto de lembrar quando você veio dormir aqui em casa e ficamos tirando fotos. Eu gosto de lembrar de quando íamos nas locadoras e passávamos horas para escolher um simples filme. Eu gosto de lembrar que você foi a primeira pessoa a ver meu cabelo roxo. De você e eu assistindo D.Gray-man. De você vindo para mim com as cifras de Regret. De você tocando teclado.

Você é toda uma memória muito linda, Vamp's. Até mesmo quando discutimos por causa do Pybore, haha. Você é uma pessoa tão diferente de mim. Você é tão bonita, por dentro e por fora. E eu fico feliz sempre que lembro que eu te conheci quando você ainda parecia com a Pansy (ou: carinha de bulldog, hahaahah) e agora você é tão linda. Eu lembro que você nunca falava ao telefone, mas eu te ligava tanto que você aprendeu a conversar.

Tudo que eu lembro com você ganha mais amor, Vamp's. Você não me deu a minha memória favorita, você é.



E, no futuro, quando eu tiver um vira-tempo, vou voltar. Só para nos ver abraçadas no dia do meu aniversário-sarau.

Com todo o amor que houver nessa vida,

Morg.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Clarisse

O sangue. Clarisse não gosta muito dele, porque ele mela o banheiro e ela tem que esfregar bastante dos ladrilhos brancos, para que sua mãe não perceba. Clarisse gosta quando pode ficar só em casa, só ela e seu canivete. Ele não gosta de cortar os pulsos - tentou uma vez, mas não conseguiu deixar a lâmina penetrar na pele. Gostava de cortar os tornozelos e todas aquelas veias verdes que apareciam pela sua pele branquinha. Clarisse morde o lábio, fazendo um corte extenso do tornozelo até o joelho. Muito, muito sangue. Ela se encosta na parede do banheiro, suspirando e olhando para o teto. Naquela perspectiva, as coisas parecem tão grandes que Clarisse quase acredita em Deus. Mas ela acha que deve acreditar, já perdeu um amiga e torce para ela estar no Céu. Clarisse lembra do caminho da escola para casa e sente nojo e faz um outro corte, na parte interna da coxa. Os homens que a chamam na rua. Os homens que passam a mão pelo seu corpo. Clarisse sente os olhos cheios de lágrimas, ela não gosta dos homens. Eles são maus, eles a fazem se sentir mal. Clarisse se levanta, com muita dor. Liga o chuveiro e a água escorre, fazendo as feridas arderem e o sangue ir para o ralo. Ela não se importa com essa dor - seus pais não estão em casa, então ela poderá tomar um ou dois (quem sabe, três) calmantes e passar o resto do dia dormindo. Ela quase sorrir ao pensar na sua mãe, indo vigiá-la à noite. Levantando o lençol em busca de cortes, mas Clarisse é esperta e usa uma calça velha como pijama. A água escorre vermelha e Clarisse acha aquilo tão bonito que quase acredita em Deus.


Clarisse só tem catorze anos.