quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Retalhos

Eu tinha cinco anos e nenhum amigo. E eu brincava sozinha, porque desde sempre eu moro nesse prédio e quando eu era criança eu sempre descia para o parquinho. E brincava só, só, e ficava rodando e rodando e às vezes caia e ninguém vinha, mas eu me levantava. Só que uma vez eu cai assim, BAM, bem de frente, ralando os joelhos e os cotovelos e sujando a cara de terra. E eu comecei a chorar, porque eu só tinha cinco anos e aquele sangue todo simplesmente ardia, mas ninguém ligava muito para isso. E eu enfrentei e fui para o meu prédio, subir todos os quarenta e oito degraus até o quarto andar, sozinha. E, ao chegar no segundo, tinha um guri descendo. Ele deveria ter dez anos e eu não lembro do rosto dele, nem dos olhos, nem das mãos. Eu não lembro de nada. Mas ele disse "Nossa! Em que andar você mora?!" e eu solucei um "Último" (porque eu ainda não sabia numerais, não é?) e ele me pegou nos braços e eu chorei e ele me carregou todo o caminho, só dizendo que eu ia ficar legal. E perguntou qual era meu apartamento e eu apontei e ele me soltou, tocou a campainha e desceu e eu fiquei chorando na porta e meus pais vieram me ajudar. Nunca mais o vi e sinto falta dele até hoje.

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Eu tinha cinco anos e treze meses - haha - e era Ntal. Deram-me um pacote grosso e vermelho e eu abri e caiu um livro no chão e eu nem liguei, porque eu ainda não tinha esse apreço todo pela integridade física dos livros. O nome dele - eu demorei um tempo para ler - era Harry Potter & A Pedra Filosofal.

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Eu estava na primeira série num colégio novo e meus únicos amigos eram os livros.

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Eu estava na segunda série num colégio que não era mais tão novo e meus únicos amigos eram os livros.

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Acho que eu tinha medo das pessoas, até mesmo na terceira série, porque até meus cinco anos eu era excluída dos convívios normais nas salas de aulas, sempre deixada de lado, se vinham falar comigo era só para rir e falar "rolha de poço", "baleia" e "saco de areia", além de outros que eu não lembro, mas que ainda ficam refletidos em mim. Infelizmente, eles nunca souberam do mal que causaram.

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Eu rezava toda a noite e minha mãe dizia para eu pedir algo, mas eu nunca pedia nada, porque eu... não tinha nada que pedir, ué. Na terceira série, éramos eu, Vanessa, Isabelle, Íris e Marianne. E Jéssica, acho eu. Não lembro se ela entrou na terceira ou na quarta série, mas eu dizia que tinha amigas. Haha. Era meio engraçado isso, era só uma faltar e todas começavam a falar mal da coitada e teve uma vez que a Jéssica faltou e eu disse "ela é como uma azeitona enfiada num palito!" e todas nós rimos, e eu acho que tremi por dentro pensando o que será que elas falavam de mim quando eu não estava.

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As crianças podem ser bem crueis quando querem.

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Eu gostava desse menino, o Ranieri, desde a primeira série, acho. Porque, mesmo sendo ignorada por todos, ele ainda me destinava um sorriso de vez em quando e era isso que era gostar para mim. A Marianne chegou na terceira, descobriu isso e ficou com ele. No final do ano, algo a levou a escolher entre eu - a primeira pessoa que falara com ela quando ela entrara! Por que, hein, Deus? - e o Ranieri. Adivinhem.

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Quando a gente perguntou para a Vanessa em que ordem ela colocaria as amigas dela, ela disse o seguinte: "Isabelle, Marianne, Jéssica, Íris e Morgana." Eu fiquei chateada.

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Hoje, se a gente perguntar isso para ela, acho que ela dirá "Não sei quanto aos outros, mas a Morg fica em primeiro lugar", sorrindo daquele jeito meigo.

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O nome dele era Lucas Cordeiro Herculano, mas como já tinha um Lucas na minha vida, eu só o chamava de "Cordeiro". Pegou e hoje são poucos os que o chamam de "Lucas", se excluirmos os familiares. Eu o conheci em 2004 e ele também lia Harry Potter - o único além de mim. Deuses, como eu o odiava!

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Na comemoração de Páscoa do colégio, quando tivemos que recortar coelhinhos como marca-páginas, eu sofri bullying por alguma razão. Jéssica e Cordeiro estavam recortando suas coisas num canto, porque eles eram acostumados a isso. Eu sentei ao lado deles e comecei a conversar, daí eu disse "Vocês são amigos muito melhores do que eles! Vou ficar com vocês para sempre" - a promessa, a curto prazo, durou até o dia seguinte. A longo prazo, nunca fui muito amiga da Jéssica. Mas o que você me diz sobre isso, Cord?

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No final da quarta série, a gente ia mudar de sede. Do Júnior para o Central. E teve uma excursão para um canto legal e por alguma razão, eu, Vanessa e Cordeiro ficamos juntos o tempo todo. Brincando de Harry Potter. Estávamos num parquinho, nos balanços, e Vanessa diz: "Eu até gosto da Umbridge". Eu e Cordeiro nos entreolhamos e falamos, em uníssono: "O QUEEEEEE?!"

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Com quem eu andava na quinta série? Eu estava numa sala completamente diferente. Sei lá, acho que com ninguém. Ou com a Thiara e a Bruna... o mesmo que ninguém.

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Eu gostava do Eládio, porque era modinha gostar dele. Tanto faz. Tá aí um cara que, até hoje, eu não sou muito atraída por.

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Eu odiava novela, se fosse mexicana, então... mas todo mundo cantava umas músicas em espanhol direto e eu ainda não tinha cabeça y no era rebelde.

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O nome dela era Stefany e eu só sei que ela andava com as patricinhas, até ela levar um baita tapa na cara por um motivo que até hoje eu não entendo bem, e passar a andar com uma tal de Ravelle. A Ravelle sentava perto de mim, da Raquel e da Bianca (quando o grupo de amigas mudou?!) e a Stefany passou a se sentar também. A Ravelle começou a ser amiga da Maíra, e a Stefany começou a ser minha.

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Eu a chamava de "Tefy" e gostava mais dela do que da Bianca e da Raquel, porque a Raquel era má, muito má. Acho que aprendi com ela.

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Era julho de 2006, quando eu perguntei para a Tefy, "vc sabe o que eh fanfic?"

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No começo de 2007, eu já ODIAVA quem escrevia errado no MSN.

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Ele era José Amazonílio, mas todo mundo o chamava só de Zé, e ficou meu amigo tão do nada que eu nem consigo falar. E o tal do Cordeiro foi para a minha sala e eu, ele, o Zé a Tefy viramos uma espécie de quarteto fantástico. A Tefy dizia que gostava do Zé (só que, desde sempre, ela gostava do Eládio) e eu disse para ela se declarar. Ela se declarou, eles namoraram por um dia no shopping, e no dia seguinte ele terminou com ela para ficar com a Ylana.

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Durante aquele dia, eu perguntei ao Cordeiro "Você ainda gosta da Tefy?" e ele disse "Não". Mas nós dois sabíamos que ele estava mentindo, e resolvemos ignorar.

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Eu nem lembro como eu dei meu primeiro selinho, só sei que foi num jogo de Verdade ou Desafio da quarta série. E eu ria do Cordeiro, já em 2008, porque ele era BV. A gente deu um selinho, mais ou menos na época do Festival, e eu conto isso como o meu primeiro beijo, porque é o que eu lembro. Eu dizia que já tinha tirado o BVL, mas eu era, quem iria beijar uma menina gorda e feia de língua? Mas era legal não ser BVL e rir do Cordeiro por ele ser. Quando a Tefy perguntou "Cord, tu é BVL, né?" e ele assentiu, ela perguntou para mim e eu gelei e pensei em assentir, mas ia parecer idiota demais e eu disse que "Claro que não!" e ri. "Então o que vocês estão esperando?"

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A gente foi indo pro quarto do Zé, para nos beijarmos de língua com privacidade e eu estava morrendo de medo, porque eu tinha dito que já tinha beijado de língua, mas nunca tinha. Chegamos lá, fechamos da porta e fizemos algo estranho que só dois virgens de beijos e de outras coisas fariam. Só demos um beijo, e foi esquisito e engraçado e eu pensei "nossa, esse foi meu primeiro beijo!" e abracei o Cord, mesmo ele tendo arranhado minha lingua e ri. "Seu coração está batendo tão rápido", eu disse e ele não respondeu nada.

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O "relacionamento" acabou quando eu perguntei "Você ainda gosta dela?" e ele disse "Gosto". Acho que foi daí que surgiu meu complexo de inferioridade em relação a você, Teddy.

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A Vamp's (e ela passou a ser Vamp's porque eu comecei a chamá-la assim) nunca tinha beijado e todo mundo era idiota e fazia pressão e o Cord dizia que gostava dela e eles deram um selinho. E depois, de bastante tempo, um beijo de verdade.

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E eu escrevi um montão de coisas, milhares, e o post ficaria imenso, mas o computador deu erro. E eu tô com odio e vontade de chorar, mas quer saber? Um dia eu termino. São só retalhos, afinal.

2 comentários:

Stefany Monteiro disse...

... e eu só não sei o que dizer.
Desculpa.

Sylvia disse...

É...